Você é um “saudosista” ou é um “nostálgico”? O professor Cortella nos explica a diferença e consequências
SP - 22/07/2016 - ISTOE - OS GURUS DA INTELECTUALIDADE BRASILEIRA. MARIO SERGIO CORTELLA - FOTO: FELIPE GABRIEL

A quarentena tem se tornado um tempo leitura e reflexão, o que acaba por trazer-nos ao campo do autoconhecimento. Foi pensando nisso que tirei da estante o livro “Viver em paz para morrer em paz“, do professor e filósofo Mario Sérgio Cortella.

O livro é repleto de reflexões sábias e bem engendradas, de fácil e fluida leitura. Separei aos leitores da Revista Pazes um trecho do capítulo “Saudade e nostalgia, raízes e âncoras”, em que o professor discorre sobre as características de dois estados de espírito muito recorrentes em nossos dias: a saudade e a nostalgia. Vale conferir abaixo:

“Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive apenas a nostalgia, e não a saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra. Uma pessoa tem saudade quando tem raízes, pois o passado a alimenta (mais de quarenta anos atrás, eu saí de Londrina, minha cidade natal, mas minha saudosa Londrina não saiu de mim). Pessoas que têm nostalgia estão quase sempre às voltas com um processo de lamentação.

Como curiosidade, lembro que a palavra “nostalgia” foi criada por um médico alemão no século XIX. Naquela época, quem tinha um ferimento feio tinha de amputar o membro ferido. E, como hoje, muita gente que perdia uma parte do corpo relatava continuar sentindo desconforto, coceira ou dor no membro que não existia mais. E então o médico alemão pegou duas palavras gregas antigas e as uniu: nostos, que significa “volta”, e algo, que quer dizer “dor”. Assim, nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi, mas continua doendo.

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Todos nós temos raízes e também âncoras. O problema é quando as âncoras superam as raízes. O nostálgico amarga e sofre; o saudoso se alegra, pois ele deixa fruir aquilo que viveu. O nostálgico se aproxima daquilo que os antigos chamavam de melancolia e que hoje é chamado de depressão, esse perigo. Vez ou outra, é preciso fazer um “balanço” de mim mesmo, de modo a ver seestou sendo puxado para a as raízes ou para as âncoras, para a saudade ou para anostalgia, para a alegria ou para a depressão.”

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