O renomado cineasta Karim Aïnouz desponta como um dos maiores nomes da sétima arte contemporânea, acumulando mais de três décadas de carreira recheada não apenas de quantidade, mas sobretudo de qualidade em suas obras (um filme melhor que o outro!).
Reconhecido globalmente, Aïnouz é o visionário por trás de filmes elogiados como “Madame Satã”, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo”, “Praia do Futuro” e “A Vida Invisível”. Consagrado em festivais internacionais, como Berlim e Cannes, assim como no cenário brasileiro, esse cineasta cearense traduz a realidade crua do Brasil para o mundo através das telas.
De maneira irônica, a brasilidade marcante em muitos de seus filmes contrasta com a partida de Karim do país na década de 1980. Inicialmente em Paris e depois em Nova York, ele deu início à sua jornada cinematográfica. Filho de um argelino e uma brasileira, sempre experimentou uma sensação de desenraizamento não apenas de sua cidade ou estado, mas de seu país. Homossexual, em entrevistas menciona ter “fugido” do Brasil devido à homofobia e marginalização presentes na sociedade. Além disso, enfrentava limitações artísticas por aqui, impulsionando sua busca por experiências além-fronteiras. Hoje, reconhece o Brasil como parte de sua identidade, mas não sua totalidade.
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No filme “O Céu de Suely”, aclamado em 2006, a protagonista Hermila (Hermila Guedes) adota o pseudônimo Suely para vender rifas que prometem uma noite paradisíaca com ela. Ambientado em Itagu, no sertão central do Ceará, o filme retrata a passagem de Hermila pela periferia onde cresceu. Recém-chegada de São Paulo com seu filho Matheus, ela é recebida pela tia Maria (Maria Menezes) em um posto de combustível e se hospeda na casa da avó Zezita (Zezita Matos).
Na expectativa de um reencontro matrimonial, Hermila vai à rodoviária esperando o retorno de Matheus em um dos ônibus de São Paulo. Porém, ele não aparece. Ao telefonar, descobre que ele se mudou, sem aviso prévio ou destino conhecido. Aos 20 anos, Matheus foge do compromisso, provocando em Hermila um desejo visceral de vê-lo em um acidente.
Dessa forma, ela inicia uma jornada para angariar fundos por meio da venda das rifas, visando escapar daquela realidade. Entre festas, bares locais, mercados e ruas, oferece as rifas por dois reais a homens interessados, negociando o valor e método de pagamento, incerta se o serviço cumprirá o prometido.
Simultaneamente, reacende um romance com um antigo namorado, o mototaxista João (João Miguel), que parece incapaz de esquecê-la. Ele a segue romanticamente pelas ruas, pedindo para que esqueça Matheus e prometendo comprar todas as rifas. Mesmo após uma noite de amor em um motel da cidade, Hermila se mantém firme em seu propósito. Não deseja nem Matheus, nem João. Seu único foco é vender as rifas e deixar Itagu.
À medida que as vendas aumentam, a reputação de Hermila como prostituta se espalha. A avó a repreende e exige um pedido de desculpas. De modo sutil, o filme analisa a busca de Hermila pela liberdade, tanto sexual quanto pessoal. Assim como Karim, Hermila não se encaixa exatamente naquele lugar. Nesse filme, à semelhança de “Madame Satã”, Karim apresenta personagens aprisionados em estruturas machistas, em busca de seu espaço, liberdade e felicidade.
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Fonte: Omelete