“A beleza está além das palavras”. Rubem Alves
Você conhece o outro pelos atos e não pelas palavras ditas e/ou escritas. O sujeito pode falar e escrever uma “coisa,” mas fazer o inverso. Aplica-se a máxima: “Faça O Que Eu Digo, Mas Não Faça O Que Eu Faço.”
Sigmund Freud, em sua sapiência descobriu que não há mentira que, repetidas vezes se sustente, posto que hora ou outra caiará em contradição. O sujeito cairá no ato falho. A verdade cai do inconsciente, pois o consciente nesse caso é falho, ou seja, o consciente é apenas a ponta do iceberg. Assim, por mais “esperta” que uma pessoa seja – ela nunca terá o domínio do inconsciente. Aqui reside sua graça ou sua desgraça. Portanto, é quase “impossível” sustentar a mentira por um longo tempo.
“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Abraham Lincoln
Segundo Carl Gustav Jung, todos nós usamos personas. Personas, são às máscaras que usamos. Exemplos são muitos: a persona da mãe, do pai, da esposa, do esposo, do filho, da namorada, do namorado, do amigo, do profissional etc.
Podemos chamá-las de “personas gratas”, quando desenvolvem o seu papel de forma coerente e justa. Em contrapartida estas mesmas personas citadas acima, podem ser “personas não gratas”, quando desenvolvem suas funções de forma incoerente, injusta e/ou perversa. A pensar nas leis impostas a sociedade. As “personas não gratas” não respeitam o próximo, logo, não respeitam e não cumprem às leis.
Sêneca assim descreve a parrhêsia: “Eu gostaria de deixar ver meus pensamentos, em vez de traduzi-los pela linguagem. (…) Acima de tudo, eu gostaria de te fazer compreender que tudo que me acontecer de dizer, eu o penso, e não apenas penso, mas amo. (…) O essencial é dizer o que se pensa, pensar o que se diz; fazer com que a linguagem esteja de acordo com a conduta.” (FOUCAULT, 2001a, p.384-385).
Os “dizeres” até então silenciosos, mas que não existiam, até serem ditos, até serem enunciados como “dizeres”, até serem “acreditados”, e que só tomam a forma de “dizeres” quando se condensam no caldeirão de forças transferenciais. Sedução indispensável para que se materialize o dizer verdadeiro, de alguém que crê no que diz e ousa dizê-lo, colocando-o, com isso, à prova da escuta e do dizer verdadeiro do outro. Todavia, faça o que for o melhor para você, se você fizer o melhor para você com consciência da verdade estará agindo com boa-fé – dará o seu melhor ao outro, sem sentir necessidade de encenar e teatralizar para forçar uma verdade. Sabe-se que não existe verdade encenada – a encenação parte de uma história contada que dá margem há muitas interpretações.
Lacan diz que o inconsciente é “o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. Mas a verdade pode ser reencontrada; na maioria das vezes já está escrita em algum lugar” (LACAN, 1998)
Referências:
LACAN, J. (1965). A ciência e a verdade. In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
Ágora (Rio J.) vol.7 no.1 Rio de Janeiro July/Jan. 2004