Quando entrou aqui, aqui na minha vida,
Você…
Roeu coleiras caras. Macerou a orquídea rara.
Fez diários clipes de machetes pelo jardim, esquartejado o jornal.
Mastigou minha blusa de grife. Rasgou meu sapato assinado.
Derrubou e quebrou um vaso de cinquenta quilos.
Colheu a flor da bromélia tão esperada e deixou-a na porta para mim.
Comeu meu brinco solitário.
Desenhou cicatrizes na minha pele hidratada a frutas vermelhas e vanilla.
Desfiou meu pulover amarelo que levei dois anos a tecer.
Multiplicou a mangueira do jardim em muitas mais.
Fez e faz o mesmo com seu colchãozinho, sua manta e as meias da sua Dinda.
Customizou toalhas e lençóis no varal, dando-lhes assimétricas franjas.
E, é tanto e mais, que me cansaria em documentar suas façanhas em série.
Paro por aqui. Basta que se diga, todos os dias você tem um verbo novo a inaugurar.
Encerro bendizendo a sua chegada, e com ela o valioso ensinamento que – feliz – sigo levando e aprendendo, um pouco a cada dia:
O desapego ao material daquilo que se vai, daquilo que se perde; pois, que sim, existem apenas para serem consumidos. Que é do incondicional de que o Amor é feito.
Se, o que é pensado como ser amor, tropeça em “se” e “mas”, Amor não é.
Ama-se ou não, simples assim.
O verbo vivo que deveria permear todos os outros, apenas um.
Um verbo, que na sua excelência, melhor conjugado seria entre tudo que seja vivo.
O verbo é amar.
Amo-te, cão meu!
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Texto de Suzi Amaral
Imagem de Spiritze por Pixabay