Por Marcel Camargo
Eu me lembro de que minha mãe contava sobre uma vez em que, quando éramos crianças, após algum dos filhos ter lhe dado uma resposta rude, ela foi se sentar na cozinha para lamentar, pois ela temia não dar conta de nossa educação. Então, dois de seus filhos passaram por ela, pegaram cada um uma banana na fruteira, descascaram-nas e jogaram as cascas no lixo, antes de comer as frutas. Ela sentiu, ali, um chacoalhão de Deus, que lhe mostrava que a gente aprendia, sim, o que ela ensinava.
Eu nunca me esqueci dessa história, porque é assim que eu também encaro a vida, tentando retirar alguma coisa de tudo o que acontece, enxugando minhas lágrimas enquanto busco os sinais, as lições, os recomeços. Não é fácil, nem um pouco, mas eu sempre tento refletir sobre o que me acontece, no sentido de poder entender a minha responsabilidade naquilo tudo, de poder melhorar e seguir. Eu não posso me permitir ficar muito tempo estacionado na tristeza, porque tem gente que caminha comigo.
Logicamente, a gente não vai conseguir dar conta de lidar com todos os reveses, de uma maneira equilibrada. Tem vendaval que vem para varrer violentamente a nossa saúde, as nossas certezas, a nossa sanidade mental. Tem escuridão que parece pesada demais, porque afeta quem amamos, enquanto assistimos impotentes àquilo tudo, sem poder fazer nada. Em algumas fases de nossas vidas, a gente sobrevive meio que se arrastando, como numa neblina. Daí a gente precisa de ajuda, seja de alguém da nossa vida, seja de um profissional.
Eu me sinto particularmente agraciado nesse sentido, porque a ternura de minha mãe e as palavras de meu pai sempre foram extremamente consoladoras. Hoje, eu tenho pessoas próximas, de meu convívio, com as quais eu sei que posso contar, umas para me ouvir, outras para me apresentar soluções, outras para dar risadas. Como é bom ter essa garantia de gente que nos ama, que torce por nós, que nunca nos deixaria sozinhos. Além de tudo, elas são exemplos de como devemos ser, são os presentes que a vida nos oferta.
Realmente, embora pareça conversinha de boteco, tudo nessa vida tem mesmo um porquê, uma razão de ser, tudo vem para ensinar, acredite-se ou não em Deus – eu acredito. Mas a gente tem que estar disposto a aprender, a sair da bolha, a olhar para fora, porque a gente tira lições até mesmo das pessoas que fazem um estrago na nossa vida. Até mesmo quando nós estragamos com tudo. Sobretudo, temos que nos conhecer. Hoje, eu aceito tudo o que sou, de bom e de ruim, porque minhas falhas também me definem. Perfeição não existe e eu anseio por existir.
Capa imagem de Free-Photos por Pixabay
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