Nunca o termo “chique” foi tão usado para qualificar pessoas como atualmente. Basta abrir qualquer das revistas semanais especializadas em burburinhos para ver as mais diferentes figuras reduzidas à mesma tribo: a dos “absolutamente chiques”. Para isso, basta ter (ou parecer ter) uma gorda conta bancária, um apartamento projetado por um arquiteto específico, e, claro, frequentar as festas certas e os restaurantes da moda. É tiro e queda. Daí pra virar celebridade é um pulo. Celebridade “chique”, lógico. Mas a verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. E elegância é uma delas. Assim, para ser chique, é preciso muito mais do que um guarda-roupa recheado de grifes importadas. Muito mais que um belo carro alemão. O que faz alguém ser verdadeiramente chique não é quanto essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta.
Chique mesmo é quem fala baixo. Quem não procura chamar atenção por suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes. Mas que, sem querer, atrai todos os olhares, porque tem brilho próprio. Chique mesmo é quem é discreto, não faz perguntas inoportunas, nem procura saber o que não é da conta.
Chique mesmo é gostar de filosofia, enquanto todo mundo devora Paulo Coelho. Chique mesmo é parar na faixa de pedestre e abominar a mania de jogar lixo na rua. Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador. É lembrar o aniversário dos amigos. Chique mesmo é não se exceder nunca. Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir. Nada mais feio do que parecer uma vitrine ambulante.
Chique mesmo é olhar no olho de seu interlocutor. É “desligar o radar” quando estiver sentado à mesa do restaurante, e prestar verdadeira atenção à sua companhia. Chique mesmo é honrar sua palavra. É ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios. Chique é não fazer a menor questão de aparecer, mas ficar feliz ao ser prestigiado. Chique mesmo é conhecer a galinha ao molho pardo do Porto do Moreira e o steak tartar do Bar du Theatre, em Paris. Chique mesmo é ter boa conversa, cultura geral e um pretinho básico no armário.
Mas, para ser chique, chique m-e-s-m-o, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre do quanto que a vida é breve e de que vamos todos para o mesmo lugar. Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se cruzar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não faça você se sentir bem. Porque, no final das contas, chique mesmo é ser feliz!
Crônica do livro “A quem interessar possa” de Gilka Maria, Bahiana arretada de Salvador.
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