Por Octavio Caruso
É possível escutar os tambores de guerra no horizonte, vivemos tempos sombrios, líderes políticos promovendo ódio, segregação cruel, valores invertidos em todos os níveis da sociedade, medo e dor, angústia e fome, o mundo parece estar nas mãos de loucos e psicopatas, o apedrejamento nunca foi tão incentivado nas redes sociais, justiceiros virtuais que compartilham notícias falsas e são facilmente manipulados, aderindo a modismos imediatistas, frases repetidas pelo prazer de se sentir parte da manada, gostos moldados servindo aos interesses dos titereiros, vivemos a era da informação ao alcance de todos, mas grande maioria do povo perdeu o elemento fundamental do interesse.
Um adulto alfabetizado que enxerga alguma verdade na estratégia torpe de um programa televisivo que melhora seus pontos de audiência com uma polêmica grosseiramente engendrada. Um jovem alfabetizado que aplaude fervorosamente um político estúpido defensor do clássico “direitos humanos para humanos direitos”. Figuras que respiram, comem, caminham e falam, mas não passam de zumbis em estado vegetativo, intelectualmente vazios. O mundo precisa urgentemente de pessoas como Davis, o personagem vivido por Henry Fonda no clássico “12 Homens e Uma Sentença” (12 Angry Men – 1957).
O roteiro gira em torno do julgamento de um jovem porto-riquenho que é acusado de ter matado o próprio pai. Doze jurados são convocados para decidir a sentença. Onze deles, movidos por razões egoístas e por puro preconceito, votam sem pensar duas vezes pela condenação. O jurado número oito (Fonda) é um homem de caráter íntegro, ele acredita que o jovem deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Os seus colegas se revoltam com essa atitude, a pequena sala de júri é abafada, o calor intensifica os ânimos. Não há qualquer senso de empatia deles pelo rapaz, uma vida dispensável, o estranho responsável por aquela tarde perdida. A voz dissonante é a mais baixa na mesa, o homem introvertido, elegante, de poucos gestos, o rebelde que pede apenas para que seus pares argumentem, dedicando tempo ao caso, atenção sincera, em suma, um clamor por humanidade.
O senso comum forja verdades frágeis, convicções são alimentadas por sentimentos pequenos, a memória é capaz de criar situações impossíveis, as provas teoricamente inabaláveis podem ser aniquiladas caso analisadas por outro ponto de vista, o ser humano enxerga aquilo que quer ver, projetando no outro as suas frustrações e desejos mais íntimos. O brilhante diretor Sidney Lumet, trabalhando o roteiro de Reginald Rose, reduz ao máximo o espaço cênico, a trama se passa quase que inteiramente nesse único local, uma decisão muito acertada. O suspense é estruturado nos diálogos, no embate franco de ideias. A solução se dá a partir do questionamento, recurso cada vez mais raro em nossa sociedade.
É fundamental que os seres humanos despertem desse coma existencial, não é possível que essa tragédia anunciada não possa ser evitada. A minha esperança reside naquele indivíduo que, contra todas as probabilidades, levanta a mão e pede a palavra, ousando confrontar o pensamento medíocre dominante.
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