Texto de Marcel Camargo
Existem situações em que não poderemos nos recusar a ajudar, porque nem sempre o que ocorre se trata de nós mesmos. Desprender-se de si, em certos momentos, enxergando as necessidades alheias, é o que nos tornará pessoas melhores e menos egoístas – e o mundo precisa disso. Porém, nem a todos os chamados poderemos responder com prontidão, ou acabaremos adoecendo, de corpo e alma.
O ser humano possui comportamentos que não se explicam direito, como o de desvalorizar aquilo que já se tornou um hábito, uma certeza. Muitas vezes, as pessoas supervalorizam uma atitude pequena, enquanto nem parecem ligar para uma ajuda imensa, simplesmente porque essa ajuda imensa elas tinham certeza de que receberiam. É assim com amigos, colegas de trabalho e até mesmo nos relacionamentos amorosos.
Talvez seja este um dos maiores entraves da raça humana: a dificuldade de ser grato ou de enxergar quem sempre está ali ao lado, para o que der e vier. Porém, caso a pessoa que sempre respondeu acabe se negando a fazê-lo uma única vez, a ingratidão vem com tudo, como se a pessoa se esquecesse de imediato do tanto que já foi ajudada por aquele que, por alguma razão, dessa vez não responde ao seu chamado.
Na maioria das vezes é assim que as coisas andam: caso você esteja disponível toda vez que for requisitado, seja por um amigo ou por um pretendente, dificilmente se lembrarão de você quando tudo estiver bem ou quando já tiverem alguém ao lado. Ou seja, nosso valor está diretamente relacionado ao tanto que nós nos valorizamos. O que é fácil demais não atrai, tampouco consegue transmitir o seu real valor, infelizmente.
É óbvio que deveremos estar disponíveis para algumas pessoas, como nossos pais, por exemplo, dentre outras situações em que a recusa seria nada menos do que mesquinharia egoísta. No entanto, limites sempre serão necessários, para que não confundam nossa solicitude com servidão e nossos mais puros sentimentos com ocasião. Quando estivermos agindo em desfavor de nossa dignidade, não estaremos ajudando ninguém e sim enterrando, aos poucos, a nossa autoestima. Acredite, é assim, na grande maioria das vezes.
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