Duas irmãs gêmeas idênticas, Suchita e Savita Naidu, cujas semelhanças eram uma marca registrada de sua infância, agora trilham caminhos distintos e inspiradores. Enquanto Suchita compete na semifinal do Miss Inglaterra, com seus olhos fixados na coroa, Savita revelou sua identidade como um homem trans. Contrariando expectativas, essa revelação fortaleceu o vínculo entre eles, como compartilharam em entrevista ao jornal britânico The Mirror.
A história de Suchita e Savita é um testemunho da força do laço entre gêmeos. Suchita compartilhou: “Não éramos melhores amigas antes de Savita se declarar trans. Não sabíamos tudo o que estava acontecendo na vida uma da outra. Mas não foi um choque [quando Savita se assumiu], pois temos esta ligação intrínseca que os gêmeos têm. Eu meio que já sabia. Acho que nos tornamos mais próximos, pois Savita não precisava mais fingir ser mulher e podia se sentir confortável em nosso relacionamento.”
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Savita, por outro lado, descreveu sua jornada como desafiadora. “Para mim, foi mais um choque descobrir que era uma menina. Agora, não sinto mais que estou me escondendo e aceitei quem sou. Finalmente tudo faz sentido”, disse ele, mantendo seu nome de nascimento, mas adotando pronomes masculinos. Sua jornada incluiu 18 meses na lista de espera para uma clínica de identidade de gênero, onde iniciará a terapia de testosterona.
A trajetória das gêmeas começou em Camden, no norte de Londres, Inglaterra, com apenas cinco minutos de diferença entre seus nascimentos. Aos três anos, a família se mudou para a Malásia, sua terra ancestral. No entanto, em 2012, retornaram ao Reino Unido, devido a direitos de residência, amor pelo país e apreço pelo sistema educacional britânico. Na Watford Grammar School for Girls, no nono ano, Savita começou a sentir atração por meninas.
Hoje, aos 21 anos, Savita e Suchita frequentam a University College London (UCL). A escola foi um período desafiador para Savita, que compartilhou: “Foi uma experiência um tanto ridícula. Eu tinha plena consciência de não ser mulher desde os 13 anos. Embora me sentisse como um menino, presumi que era assim que uma ‘menina mais moleca’ se sentia. Achei que seria uma mulher masculina. Mas ir para a escola feminina foi muito pesado para mim. Eu me senti tão profundamente infeliz usando uma saia, isso me fez me sentir horrível.”
Foi após as provas para a universidade, em 2020, que Savita decidiu revelar sua identidade como homem trans. Isso teve um impacto profundo em seu relacionamento com Suchita. “Sair do armário, na verdade, fez com que eu e Suchita nos aproximássemos muito. Isso nos forçou a ter conversas íntimas um com o outro. Eu não poderia ficar sem ela”, enfatizou.
Embora fossem gêmeas idênticas, durante o Ensino Médio, as duas não discutiam abertamente suas identidades de gênero. Foi durante uma viagem escolar que essa revelação surgiu de maneira casual. “Eu admiti para nossos amigos que era bi – e Savita olhou para mim e disse: ‘Sério? Porque eu sou tão gay…'”, recordou Suchita. Essa revelação fortuita desencadeou uma série de conversas sobre identidade de gênero e orientação sexual entre as irmãs.
Ao longo de sua infância, a diferença entre Suchita e Savita tornou-se gradualmente mais evidente. Desde a tenra idade, Suchita compartilhou: “Lembro-me de pensar aos 5 ou 6 anos: ‘Minha irmã gêmea não é uma menina’. Eu tinha essa sensação dentro de mim de que o fato de ela ser uma garota simplesmente não parecia certo.”
As brincadeiras infantis também revelaram diferenças notáveis. “Savita gostava de carros e super-heróis e eu gostava de vestidos, maquiagens e flores. Eu era uma garota feminina, enquanto Savita era mais moleca. Nossa família acreditava que seria apenas uma fase, mas quanto mais durava, mais parecia que eu tinha um irmão”, contou Suchita.
A jornada de Savita para entender sua identidade se tornou mais clara durante o Ensino Médio. “Começamos a aprender sobre a comunidade LGBT e todos os sentimentos que eu tinha começaram a fazer sentido”, confessou ele.
No entanto, trazer sua identidade à tona foi um desafio para Savita, especialmente devido às leis estritas sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo em sua terra natal, a Malásia. Apesar disso, ele encontrou apoio em sua família. “Acho que meus pais sempre pensaram que eu poderia superar isso. Eu nunca soube que isso era ilegal na Malásia até voltar à Grã-Bretanha. Lá, você ainda pode levar uma chicotada só por ser lésbica”, contou Savita.
Savita descreveu o processo de revelar sua identidade à família como um desafio. “Nunca fiquei desanimado, mas meus pais são bastante tradicionais, então foi difícil. Eu primeiro disse a eles que eu era gay… e depois me declarei um homem trans”, disse ele. A mãe de Savita, especialmente, estava preocupada com o estigma e as possíveis consequências na comunidade malaia, onde tais relações são ilegais.
A história de Suchita e Savita é uma celebração da aceitação e do amor incondicional entre irmãos. Suchita destacou: “A identidade sexual do meu irmão gêmeo, trans, nunca mudará o que sinto por ele. Ele é a pessoa que esteve comigo em tudo. Gênero e identidade sexual são coisas banais quando você ama alguém de verdade.”
Em meio a todas as diferenças, o amor e o apoio mútuos dessas irmãs gêmeas são um exemplo inspirador de como a compreensão e o respeito podem florescer, independentemente das jornadas individuais que cada um escolhe seguir.
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Fonte: RC