Este tema é muito abrangente, pois envolve nossa vida como um todo. Podemos focar os relacionamentos afetivos de casais, de homossexuais, de amizades…, ou relacionamentos familiares, profissionais, etc.
Vou manter o foco nas atitudes que favorecem todo e qualquer relacionamento. Atitudes essas que contribuem para uma vivência bem mais saudável e harmoniosa entre as pessoas.
Que atitudes são essas?
Jesus apresenta uma regra de ouro, que resume toda a Sagrada Escritura: “Tratai os outros assim como quereis que vos tratem” (Mt 7,12). Aplicada essa regra de ouro a vida entre as pessoas seria de mais paz, harmonia, fraternidade, respeito…
Ainda dentro dos ensinamentos de Jesus encontramos uma segunda atitude, fundamental para um bom relacionamento com qualquer pessoas: “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Esse “como a ti mesmo” já comentei num artigo anterior, pois aprendemos a amar a Deus e ao próximo e nos esquecemos de amar a si mesmo, como referência para amar esse próximo. Nos relacionamentos afetivos estão as maiores deficiências ou os maiores estragos quando as pessoas não aprenderam a amar a si mesmo. É muito bom estar com a pessoa que amamos, mas deve ser muito bom estar longe dela também. Não conheço o autor dessa frase: “Quem não é um bom impar, jamais será um bom par”. E sabe por que jamais será um bom par? Porque vive um amor dependência. E dependência não é amor, pois quem depende, apenas usufrui. Essa pessoa pode ser chamada até de vampiro do amor. Quantos casais vampiros por aí!
Outra atitude básica para todo e qualquer relacionamento, em especial os afetivos, é deixar o outro ser ele. Ninguém precisa anular-se para viver com outra pessoa, pelo contrário, conforme o Apóstolo Paulo, “o amor não procura o próprio interesse” (1Cor 13,5), ou seja, visa promover a outra pessoa, querer que ela cresça, desenvolva-se, realize seus sonhos… Existe uma famosa lenda, onde um casal muito apaixonado de uma tribo pediu ao feiticeiro um conselho para viverem esse amor para sempre. Ao final da lenda ele diz: “Voem juntos, nunca amarrados”. Kalil Gibran, no seu livro “O Profeta”, referindo-se ao casal, diz: “Amai-vos, um ao outro, mas não façais do amor um grilhão”. Respeitar o outro como ele é, entender que cada um tem um “mapa mental”, é uma das tarefas básicas nos relacionamentos. Ainda referindo-se ao casal, Dalai Lama diz: “Dê a quem você ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar”. Não há nada mais belo do que dois seres livres permanecerem juntos ligados pelo amor incondicional – amor liberdade. Diz ainda Gibran: “Vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia, pois as colunas do templo erguem-se separadamente, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro”. Uma comparação perfeita. Viver juntos, mas cada um respeitando o espaço do outro. O lar é um templo que deve ser sustentado por duas colunas: cada uma na sua posição para que realmente haja apoio. O amor tem por objetivo a união e não a fusão. Acredito que a afirmação bíblica de que os dois serão uma só carne precisa de uma melhor explicação.
E a gratuidade? Sim, a gratuidade é indispensável nos relacionamentos. Ainda do livro O Profeta, Kalil Gibran aconselha: “Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pão”. Isso significa que devemos compartilhar, ser gentis, dar do nosso pedaço, mas sem exigir nada em troca. É comum depois da gentileza vir a cobrança. Faço um favor e espero logo alguma recompensa. Pretendo tirar alguma vantagem. Dividir o pão, sim, mas sem comer do mesmo pão. Veja uma atitude de gratuidade: levanto mais cedo, vou preparar o café para a família e vou curtindo o prazer do que faço, percebo como em cada detalhe o carinho e a realização pessoal ao fazer isso. Tudo pronto, sentam-se à mesa e eu sigo para os próximos passos do meu dia, curtindo o prazer de ter feito o que fiz. Nenhuma cobrança pelo que fiz.
Sem dúvida que outras atitudes, menos importantes, poderiam ser mencionadas aqui, mas só acrescento mais uma, que sem ela tudo fica mais difícil: o perdão permanente ou a compreensão. Faça o exercício de nunca dormir brigado, não deixe que a sujeira de hoje estrague o dia de amanhã. Perdoar faz um bem enorme para quem perdoa! Guardar a ofensa dentro de si é como beber de um veneno que corrói a paz, a harmonia, a boa energia. Quanta gente doente por falta de perdão, por guardar ressentimentos! Hoje eu uso duas armas poderosas ou duas atitudes diante das ofensas: primeiro procuro viver da boa energia e me proteger contra os ataques da outra pessoa; segundo, olho para ela e penso que cada um colhe o que semeia, como diz o Livro do Eclesiástico: “O mal se voltará para quem o faz” (27,27).