Fonte: Aleteia
Talvez fossem as últimas imagens do soldado, esposo e pai: “O teu amor queimou até às cinzas a floresta da minha alma”
Até o final de fevereiro de 2022, Zhenya Perepelitsa levava uma vida normal em Kiev como esposo, pai de um menininho e empresário de exportações. Ele nunca imaginou que, em questão de dias, protagonizaria o vídeo viral do “poema do soldado ucraniano” – e muito menos que ele próprio, da noite para o dia, seria forçado pela guerra a se tornar esse soldado ucraniano, membro de um dos grupos paramilitares que tentam defender a Ucrânia dos invasores russos.
Amante da literatura, Zhenya foi filmado declamando um poema persa em que o autor, o iraniano Hamid Mosadegh, explora a ansiedade de imaginar a reação das pessoas amadas quando receberem a notícia da sua morte. O soldado ucraniano declama o texto em farsi, também chamado de persa moderno, idioma que conhece porque viveu no Irã durante um ano e meio. Quem gravou o vídeo foi o fotojornalista norte-americano Alex Lourie, que, naquele momento, entrevistava militares ucranianos.
A última publicação pessoal de Zhenya Perepelitsa no seu Instagram acumula hoje milhares de mensagens de apoio de cidadãos iranianos que o viram declamar o poema de Mosadegh: o vídeo do “poema do soldado ucraniano” viralizou nas rede sociais de dezenas de países.
Eis a tradução do poema ao português:
“Às vezes me pergunto:
Quem te dará a notícia da minha morte?
No momento em que souberes da minha morte, por alguém,
Quem me dera poder ver a tua bela face
A encolher os ombros, despreocupada,
A gesticulares as tuas mãos — não importa;
A acenares com a cabeça, ‘Ah, ele morreu? Que triste!’
Quem me dera poder ver!
Pergunto-me:
Quem acreditaria?
O teu amor queimou até às cinzas
A floresta da minha alma”
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