Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Heterónimo de Fernando
Abaixo, a irretocável declamação de Pedro Lamares!
**** Alberto Caeiro é um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. O poeta foi vários poetas ao mesmo tempo, além de Alberto Caeiro, foi também Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares.
Tendo sido “plural”, como se definiu Fernando Pessoa, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviviam nele, Assim, para cada um deles criou uma biografia e um traço diferente de personalidade.
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa no dia 16 de abril de 1889. Órfão de pai e de mãe, só teve instrução primária e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção de uma tia.