Por Nara Rúbia Ribeiro
A psicóloga e editora-geral do site Conti outra, Josie Conti, acaba de lançar um livro que fala daqueles momentos dentre os mais caóticos da vida: “a hora do toco”, do “chega pra lá”, do “pé na bunda”. E olha que o “pé na bunda” abordado por Josie não é qualquer deles. É o famoso “ghosting”, aquele que ocorre quando alguém some e nos deixa a “ver navios”, deixando-nos a refletir sobre o seu silêncio ou sobre suas justificativas pueris.
O livro “Todo pé na bunda nos empurra pra frente“, da Editora Srta Lô, foi lançado no formato e-book e está disponível na Amazon. A data escolhida foi o Dia Internacional da Mulher e o livro foi recebido com entusiasmo por suas inúmeras seguidoras.
Josie concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Pazes, momento em que falou sobre o livro e sobre diversos assuntos quentíssimos nele contidos.
Vamos à entrevista:
Josie Conti, você acaba de publicar um livro com um título muito sugestivo: “Todo pé na bunda nos empurra pra frente”. Você acha mesmo que todas as vezes que somos trocadas, deixadas de escanteio, que somos de algum modo desprezadas seja um impulso, uma oportunidade de evolução? Fale um pouco sobre a protagonista do seu livro.
Cada vez que respiramos é uma nova oportunidade. Às vezes nós nos planejamos e escolhemos o que gostaríamos de fazer. Outras vezes, entretanto, coisas acontecem independente do que gostaríamos, e nos colocam em uma posição diferente de onde estávamos antes. Cada pessoa reagirá de uma forma bem pessoal a mudança de posição que o fim de relacionamento desencadeia. Mas, ao contrário do título, nem sempre a pessoa que “levou o pé na bunda” encontrará algo positivo na sequência imediata em que tudo aconteceu. Meu objetivo foi trazer um título irreverente e espirituoso. Eu queria que as pessoas o vissem e, mesmo que ironicamente, dessem um sorriso. No final do livro, entretanto, após conhecer a história de Diva, seria lindo saber que o “pé na bunda” realmente foi capaz de empurrar alguém para frente.
Diva, a protagonista, teve o nome inspirado por um pedido da minha avó que, enquanto era viva, por diversas vezes me pediu para que, quando eu tivesse uma filha, colocasse seu nome na criança. Eu não tive filhos, mas esse romance foi uma oportunidade para, finalmente, prestar essa homenagem.
A Diva do livro é uma mulher que tem muito de si mesma, mas que também tem muito de cada mulher que conhece sua história. Ela possui um mundo real, mas também se perde em fantasias.
Diva é autônoma e capaz, mas também traz marcas do passado que ainda a machucam. A protagonista se apaixona e, como todos nós, também se machuca. Sua jornada, entretanto, é um convite não só ao riso e a irreverência, mas também a profundidade e a oportunidade de rever sua própria história com olhos mais maduros. É uma ode ao direito ao luto e a dor, mas também um caminho sem volta em direção a algo além do que ela possuía antes.
Como você enxerga os relacionamentos nos dias atuais? Ainda há espaço para o amor romântico? Ainda dá pra crer no “amor eterno”?
O amor romântico, no formato hollywoodiano, é uma invenção social. Entretanto, a ideia das metades da laranja, da tampa da panela, ou de qualquer outra coisa que indique que, para sermos completos, temos que somar partes é algo altamente disseminado. Com isso, desde crianças, crescemos com a ideia de que ,“sem o outro nos completar”, somos seres faltantes, incompletos e até “fracassados”.
Isso gera uma expectativa que molda a maneira como vemos o mundo. Ainda hoje existem pessoas que preferem um casamento infeliz e um divórcio à ideia de manter seu estado civil como “solteiras”. Com isso, perde-se a noção em perspectiva de que há felicidade para além do casamento, de que o fato de um relacionamento terminar não significa que não houve amor ou mesmo que uma pessoa não é menos realizada por não ter casado. Outra noção, que trabalho no livro, é a de que existe um eterno sentimento de falta e insatisfação que não pode ser preenchido por ninguém.
Atualmente vejo relacionamentos que terminam antes de começar. Idealiza-se a figura do outro e foge-se de sua presença quando ele “ousa” não corresponder às nossas fantasias. Diva, a protagonista do livro, sofreu o que hoje chamamos de “ghosting” que é quando uma das pessoas que está inserida no relacionamento vai embora sem dar explicações (ou o faz de maneira abruta e até mesmo à distância, como quando alguém termina por celular e some).
A falta do aprofundamento afetivo leva a falta de cuidado com o outro e à descartabilidade sem culpa. A internet facilitou isso e a sociedade neoliberal, que é egocentrada, perpetua a ideia de que os produtos (ou seriam também as pessoas?) devem ser utilizados e inutilizados o mais rápido possível. Acredito que a ideia do “amor eterno” pode fazer mais mal do que bem por gerar uma expectativa irreal para a maioria das pessoas. O que eu realmente creio, para ser mais realista, é na ideia de que uma relação pode viver muitos amores e perpetuar-se no tempo com repetidos processos de reconquistas e manutenção do afeto. Por outro lado, uma mesma relação pode ter um começo, meio e fim, e, ainda assim, ser rica amorosamente, quando é capaz de ultrapassar os limites da paixão, encontrar algo de real e, ainda assim, continuar.
O que você diria a quem, tendo vivenciado um “pé na bunda” homérico, desiste de se relacionar? Para aquele que se fecha após a decepção?
Eu diria que o luto não é apenas necessário, como também é fundamental. O tempo de chorar e “chafurdar na lama” da perda é também um momento de conscientização, de reconhecimento do “quem sou eu” fora daquela relação, de esclarecimentos sobre o que realmente foi concreto naquela tempo que passou, mas também no que eram apenas sonhos e projeções. O momento da perda é quando morre a ideia do “nós”, morrem sonhos, morre a presença do outro que preenchia o dia-a-dia de quem ficou. Então o tempo de reorganização é necessário. Esse tempo também varia muito. Há quem precise de uma semana, de um mês, de um ano. Há quem fuja de algo novo por medo de decepcionar-se de novo, mas há também quem percebe que, muitas vezes, a própria companhia é o suficiente. A bússola para entender esse processo é a identificação dos próprios desejos. Estar só por opção é completamente diferente de estar só por medo do sentir ou, ainda, do estar só porque a pessoa não encontrou ninguém. Então, para concluir, o que eu diria para quem está passando por isso é: respeite o seu luto, acomode seus sentimentos, converse com e sobre suas dores e frustrações, mas, também, entenda que, nem sempre o que disseram que era bom, precisa ser verdade. Diva, a protagonista do livro, fez isso enquanto chorava até pegar no sono e revisitava sua história de vida e traumas do passado.
Leia também: 3 livros que falam do amor, do abandono e da solidão nos tempos atuais
Já ouvi você comentar que Diva, nome da sua protagonista, era o nome da sua avó. Ela, de algum modo, a inspirou ao compor a personagem?
Se há algo da minha avó na Diva que nasceu para compor o livro, para além de seu nome e desejo de existir além de sua própria morte, é a essência feminina das mulheres que foram criadas para, de certa forma, serem apenas esposas e coadjuvantes de um homem. Talvez também haja muito da força e da capacidade de adaptação que minha avó precisou ter quando perdeu a visão e, como consequência, a habilidade de enxergar as cores do mundo com seus olhos. Minha avó Diva precisou se recriar para referenciar-se em suas memórias e através das descrições que ouvia, inclusive com a minha participação. Mas há, também nessa história, algo sobre as heranças enraizadas que todos trazemos conosco e que ainda causam sofrimento quando são revisitadas. Reviver histórias nos ajuda a entender onde estão construídas nossas prisões e quem, nos dias de hoje, é o carcereiro.
O nome “Diva” é derivado de “divos”, que significa “divina”, “deusa”. Sua protagonista Diva é demasiadamente humana. Acha que em cada uma de nós há uma “diva” a ser despertada?
Acredito que sim. Muito do que sofremos é fruto do não reconhecimento da totalidade de nossa humanidade, de nossa luz, mas também de nossas sombras. Nesse aspecto eu admiro a descrição dos “deuses pagãos” porque eles são falhos, egoístas, ciumentos, vingativos. Há neles mais de nós, como seres humanos, do que em seres ideais, onipotentes e onipresentes que, a cada instante geram mais sensação de fracasso, culpa e imperfeição ao esperar que nós atinjamos um estágio de evolução que não é possível atingir em nossa humanidade.
Talvez essa seja algo disso que Diva pode nos mostrar: talvez a divindade que nos permite a totalidade esteja mais ligada ao reconhecimento de nossas limitações. E Diva ainda tem uma vantagem que é oferecer humor e poesia aos nossos olhos, mesmo enquanto vive seus piores momentos.
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