O ano de 2016 foi muito marcante para mim. Vivi um processo de mudança bastante intenso. Na verdade, tudo teve início no final de 2015, quando comecei a fazer um trabalho de introspeção — o que podemos chamar de meditação.
Neste período, de autoconhecimento, comecei a enxergar as coisas de uma forma diferente. Percebi quem eu realmente era. Mas, qual seria a minha verdade? Qual seria o meu real propósito de vida? A carreira que escolhi é a que quero seguir para o resto da minha vida?
Nunca é tarde para recomeçar
Respondendo essas perguntas percebi que minha carreira não estava alinhada com o meu propósito de vida. O trabalho não fazia mais sentido para mim. Eu realmente precisava encontrar algo que me desse prazer e que me fizesse sentir que todo dia seria uma segunda-feira. Me senti frustrado ao perceber que durante toda minha trajetória profissional eu estava, em linhas gerais, insatisfeito e desmotivado.
Sempre fui resistente a qualquer mudança e pensava que seria loucura mudar totalmente de carreira, afinal, me achava velho para um recomeço — estava com 32 anos. O cenário era o seguinte: eu morava com a Glicia, minha esposa, tínhamos muitos planos, e seria muita loucura sair de um emprego estável, com um bom salário, vários benefícios, pertinho de casa, para recomeçar do absoluto zero.
Um belo dia, conversando com a Glícia, desabafei e, aos prantos, falei algo mais ou menos assim: ”meu amor, eu não aguento mais meu emprego, não estou satisfeito com que estou fazendo e preciso mudar”. O problema é que eu não tinha nem ideia em que eu iria trabalhar. Como iria ganhar dinheiro? Como pagaria minhas contas?
Autoconhecimento
A prática da meditação me ajudou muito nessa fase. Comecei a me observar melhor. O que estava fazendo, quais eram os meus hábitos, quais eram os meus hobbies, quais leituras me atraíam. Percebi que durante muitos anos, li muito a respeito de desenvolvimento pessoal e inteligência emocional. Esses assuntos, de certa forma, permeavam meus pensamentos.
Em uma noite gelada aqui no sul do país, debaixo das cobertas, comendo queijo e tomando um bom vinho com minha amada esposa, assisti um vídeo sem pretensão alguma sobre o tal do coach. Achei incrível e, de supetão, falei pra Glicia: cara, que massa isso! — uma confissão aqui: geralmente me empolgo fácil com as coisas.
Logo tive um insight sobre me aprofundar a respeito do tema e conversei com pessoas que tinham essa formação. Todos que conversei foram unânimes: é um trabalho incrível onde você realmente tem um propósito, que é ajudar o próximo a encontrar seu caminho.
Fiquei muito feliz com esses depoimentos e acreditava ter encontrado o que fazer para o resto da minha vida! Só tinha um pequeno detalhe… O valor da formação em coaching era um pouco caro para as minhas condições financeiras naquela época.
Mas aí entra em cena uma teoria que ouço desde guri, como dizemos aqui no sul: quando a gente quer algo, encontramos soluções até onde menos se espera. Tive a feliz ideia de utilizar o valor do meu FGTS para amortizar as prestações do apartamento onde moramos e, assim, conseguir pagar a parcela do curso sem alterar nosso fluxo de caixa. Chamei a Glicia e mandei a real: “ — meu amor como a chamo —, achei uma solução para fazer o curso”. Expliquei meu plano e pedi sua opinião. E aí vem a importância de ter alguém incrível ao seu lado. Sem medo de arriscar e confiando em mim, ela respondeu: ”Meu amor, confio em você e sei que a tua intuição é forte, dentre muitas outras competências ímpares fazem parte de sua personalidade, estou contigo para o que der e vier”. Dei um baita de um beijo nela e pensei: “Era isso que eu precisava”. Na semana seguinte me inscrevi na formação de coaching e comecei o curso.
A transição
Enquanto estudava para atuar como coach, continuava em meu emprego no mundo corporativo e tentava conciliar as duas coisas. O cansaço era evidente e percebi, então, que precisava fazer a transição de uma vez. Só assim conseguiria me inserir de forma integral à minha nova paixão.
Porém, como sempre estimei a estabilidade, só poderia fazer isso se respeitasse algumas condições, como ter uma reserva financeira e, claro, meus primeiros clientes.
O processo de transição não foi como eu havia imaginado. A produtividade em meu trabalho estava muito abaixo para o meu padrão. Minha performance caiu muito e, consequentemente, meus resultados foram muito inferiores aos que meus gestores esperavam de mim.
Trabalhava em média dez horas por dia — incluindo finais de semana. Meu nível de stress começou a aumentar e me sentia completamente insatisfeito e extremamente infeliz. Isso se devia ao fato de já saber o que eu queria fazer para resto da minha vida, mas não poder agir e sair do meu emprego porque, de acordo o meu entendimento, não seria o momento apropriado.
O basta
Até que um dia algo aconteceu.
O Grêmio, meu time do coração, se sagrou campeão da Copa do Brasil. Exagerei na comemoração e cheguei atrasado no trabalho. Minha superiora me enviou uma mensagem dizendo que meu chefe queria falar comigo assim que eu chegasse. Eu desconfiava o que seria. Nos reunimos em uma sala. Eles comentaram o que estava acontecendo e que eu, de certa forma, tinha consciência: minha performance havia caído muito. Comentaram que esperavam mais retorno de mim. Me disseram: ”Eduardo, estamos te demitindo, mas temos certeza que esse é o empurrão que você precisa.” Arrumei minhas coisas, devolvi o crachá e fui acompanhado pela minha já ex-chefe até porta.
Ela repetiu: “Eduardo, tenho certeza que o que aconteceu vai ser a melhor coisa que poderia ter acontecido contigo, você só precisava de um empurrão para ser feliz.”
Neste momento eu estava sentindo um mix de sentimentos. De liberdade, por poder agora me dedicar ao que eu realmente queria, às incertezas que poderiam acontecer com a minha nova profissão.
Sempre fomos educados e crescemos ouvindo que teríamos que fazer uma boa faculdade, nos formar, encontrar um emprego ideal e ficar neste trabalho por alguns anos ou até o resto da vida, para depois comprar uma casa, casar e ter filhos. Este é o sistema no qual fomos criados.
Nem pensei, mesmo tendo um bom currículo me recolocar no mercado. Que nada! Felizmente, segui com o meu objetivo e sempre acreditando no sucesso.
É preciso saber que sempre existirão incertezas e riscos. Pensar sobre os meus pontos fortes e fracos — e principalmente lapidando os meus pontos fortes — foi primordial nessa transição.
Tracei planos e estou me mexendo, porque tudo isso tem muito mais a ver com o meu movimento do que com a bondade de alguém. Tenho trabalhando constantemente para cada dia melhorar mais e me desenvolver.
Portanto, mergulhe em você mesmo. Vá em frente que o sucesso aparecerá. Vai por mim!
Agora, me diga, você está disposto a mudar de carreira para viver o que acredita?
Créditos fotografia de capa Sergey Nivens, via Shutterstock