(Foto: Salmo Duarte, A Notícia)
Há quem seja favorável a penas mais e mais duras, não raro desumanas e desumanizantes, como forma de desencorajar apenados a reincidirem em seus delitos. Contudo, há ainda quem enxergue o sistema criminal de modo diferente e veja na promoção da dignidade humana e na possibilidade de estreitamento de vínculos afetivos entre familiares a melhor forma de promover a segurança e a pacificação social.
Esse pensamento teve como consequência uma história belíssima. Gabriel Felipe Sacht, 21 anos, que cumpria pena no complexo Prisional de Joinvile, foi liberado dias antes do parto de seu primeiro filho para que pudesse acompanhar o nascimento e ganhou um presente inestimável: teve o privilégio de ser o primeiro a segurar a criança nas mãos.
“A primeira pessoa que ele viu e que segurou ele no colo neste mundo fui eu. Foi o momento mais emocionante da minha vida e me fez acreditar ainda mais na minha mudança”, afirma o jovem pai, enquanto acaricia a mão do bebê.
A esposa do detento reside em local distante das unidades de atendimento de saúde. Quando ela entrou em trabalho de parto, no dia 15 de outubro, ligaram para o SAMU, mas o bebê se antecipou à chegada dos médicos.
Conforme narrado por Gabriel Felipe ao site NSC Total, o nascimento do filho fora emocionante:
“(…) a bolsa estourou e o nervosismo recomeçou porque a mãe só conseguiu dizer “ajuda, porque acho que o nosso filho está nascendo”.
— Ela se sentou na cama porque estava com muita dor. Quando eu olhei, já vi a cabeça do bebê saindo e os cabelinhos. Eu disse que não sabia o que fazer, mas que iria me doar ao máximo porque ele é meu filho. Foi quando fiz o parto, com o maior cuidado do mundo — conta o jovem.”
O juiz da Vara de Execuções Penais de Joinville tem autorizado, mediante avaliação particular de cada caso, a possibilidade de homens condenados e recolhidos naquele complexo prisional a acompanhar, com as devidas cautelas, o parto e nascimento de seus filhos nos hospitais e maternidades.
Nas palavras do juiz, ele assim decidiu “por questão humanitária e por entender que além do direito da criança de ter a presença do pai, isso contribui enormemente para a o fortalecimento dos afetos e, por consequência, das responsabilidades para como o outro.” O juiz afirma ainda que: “A transformação positiva que um fato como esse provoca em uma pessoa que se encontra presa é extraordinária.”
Gabriel voltou à prisão após o nascimento da criança e aguardou ansioso a próxima oportunidade de ter o filho nos braços. Essa oportunidade ocorreu no dia 13 de novembro, quando lhe fora concedido o direito de cumprir a pena em prisão domiciliar. A decisão se baseou em artigos do Estatuto da Primeira Infância, da Lei de Execuções Penais e do Código de Processo Penal que preveem a concessão de prisão domiciliar quando o reeducando é imprescindível aos cuidados especiais de menores de seis anos ou com deficiência.
Gabriel comenta que a gravidez da esposa mudou a sua vida: “Eu vi a luta diária dela durante a gravidez, de às vezes não ter dinheiro para comer e ainda assim não me abandonou na cadeia. Agora quero fazer o melhor por ela e pelo meu filho.”
Faz ainda um apelo emocionado: “Eu queria que a sociedade desse uma oportunidade, uma chance para os ex-presidiários. Eu acredito em mim e quero mostrar para todos que uma pessoa que passou pela prisão pode, sim, mudar — conclui.”
Com informações do site NSC Total
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