Situações como estas em que as pessoas, em momento íntimo e “longe” da opinião pública, dizem palavras desonrosas são muito corriqueiras.
A fala de William Waakc vazada ontem é o “lugar comum” na vida da imensa maioria dos brasileiros. Todos nós, sem exceção, temos arraigados em nosso íntimo diversos preconceitos e mal o sabemos. Não os detectamos porque fazem parte da paisagem da nossa alma. Sempre estiveram ali desde que nos entendemos por gente e provavelmente os levaremos ao nosso túmulo.
Certa vez, há alguns anos, fui fazer uma defesa no Tribunal do Júri aqui de Goiânia. Um desses mutirões malucos, onde acabamos aceitando defesas (gratuitas) de última hora. Quando fui à carceragem, tive um momento de confusão mental. O acusado era um homem alto, loiro, com olhos azuis e olhar penetrante. Eu estava preparada para ver um afrodescendente e demorou uns dois minutos (que me pareceram uma etenidade) para que a minha mente processasse que aquele “anjo loiro” era o acusado: pessoa cujos antecedentes estavam cravejados de crimes hediondos. Como a imensa maioria dos acusados é afrodescendente, o meu inconsciente ligou a cor negra à situação de réu.
O fato de todos sermos preconceituosos atenua a situação do Waack? Não. E não atenua também a nossa. A questão é sempre ver o outro como espelho e não como um alvo fácil contra o qual, ao atirarmos pedras e destilarmos o nosso ódio, “salvaremos a humanidade”.
Que cada erro constatado no próximo sirva-nos para salvar-nos de nós mesmos. Salvar a nossa humanidade pessoal que, aliás, anda maltrapilha e rota pelas calçadas da existência. É tempo de reumanizarmo-nos. Nunca é tarde demais.
Por isso, deixo aqui um recado ao jornalista William Waack:
Caro jornalista,
Eu não sou melhor que você. Não acho que preto seja em nada inferior a branco. Creio de modo inafastável na igualdade entre os Homens, mas, vez ou outra, algo aqui dentro de mim pode me trair e posso acabar agindo ou pensando em desacordo com o que sou.
Que toda esta situação sirva de lição ao Brasil para que enxerguemos, cada qual, a sua pessoal inclinação ao preconceito. E que você possa valer-se do treino da alteridade, colocando-se sempre no lugar do outro, quiçá do mais fraco, ao realizar os seus trabalhos. Creia: esse exercício o engrandecerá fortemente.
Abraço meu!
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