PLURAL DE NUVENS
Se há um plural de nuvens e se há sombras
projetadas no texto das cavernas,
por que não mergulhar, tentar nas ondas
a refração dos peixes e das pedras?
Há sempre alguma névoa, um lado obscuro
que atravessa o poema. Há sempre um saldo
de formas laterais, um como escudo
que não resiste muito a teu assalto.
Se alguma luz na contraluz se esbate,
se há curso dos dias sole e vento,
talvez na foz do rio outra cidade
venha no teu olhar amanhecendo.
Importa é ler de perto a cavidade
das nuvens e espiar os seus não-ditos:
o mais são armas para teu combate,
falsos alarmes para os teus sentidos.
Gilberto Mendonça Teles
Nota sobre o autor
“Poeta, ensaísta e professor, Gilberto Mendonça Teles nasceu em Goiás, em 1931. Publicou seu primeiro livro de poesia, Alvorada, em 1955, e entre suas obras estão A Raiz da Fala (1972), Arte de Armar (1977) e Álibis (2000). Em 1978 Mendonça Teles compilou seu trabalho até então no volume Poemas Reunidos, lançado pela José Olympio.
Na área do ensaio, um de seus trabalhos de maior destaque é Drummond: A Estilística da Repetição, publicado em 1970. Esse ensaio correspondeu à tese de doutoramento do autor na PUC-RS.
Embora Mendonça Teles seja um autor prolífico, se você fizer uma busca nas livrarias, vai encontrar poucas obras dele. Há, com certeza, um volume da coleção Os Melhores Poemas, da Global Editora, que saiu em 1993. Os textos ao lado foram extraídos do livro Plural de Nuvens, de 1990.” Carlos Machado