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Pessoas boas costumam se ferrar, mas sempre estão felizes

Mesmo que soe a clichê, a filosofia de botequim, não dá para fugirmos à constatação de que a bondade é a porta de entrada de incontáveis decepções. Porque o mundo atual vale-se da distorcida esperteza como válvula de sucesso, ou seja, muitos usam dessa esperteza com má fé, justamente em relação àqueles que confiam neles, àqueles que ingenuamente julgam o coração de todo mundo de acordo com o próprio.

E, por pessoa boa, não se relaciona, aqui, a alguém bonzinho, mas a uma pessoa com olhos limpos e generosos, com mãos que se estendem, com ouvidos atentos e coração leve. Trata-se daquele tipo de pessoa que não se nega a ajudar, que compartilha conhecimento, que divide riquezas da alma, sem apego emocional. Desapegam-se de si mesmas, porque somente se sentem humanas quando são parte de um todo.

São aqueles amigos que nunca demonstram desinteresse por nós, os colegas de trabalho que não são capazes de guardar para si algum tipo de conhecimento, os familiares que se lembram de nós mesmo do outro lado do mundo. Pessoas boas, gratas, sensíveis, com empatia suficiente para saírem de seus mundos e abraçarem o mundo de qualquer pessoa que precise de algo.

Infelizmente, quem possui uma essência por demais bondosa inevitavelmente será vítima do mau uso de suas ofertas por parte daqueles que só pensam em se aproveitar, em maldizer, em puxar tapetes, passando por muitas situações difíceis em que terá que confrontar o bem que possui com o mal que rodeia sua vida, a nossa vida, a vida de quem quer que seja. Triste, mas inevitável, a doçura da amabilidade sempre encontrará a contrariedade ferrenha do ódio amargo dos infelizes.

Pessoas bondosas costumam acreditar no melhor de cada um, pintando a vida com as cores leves da humildade e do acolhimento, desejando a felicidade alheia, pois querem que todos sejam tão felizes quanto elas próprias se sentem. E, ao longo do percurso, irão se deparar com o pior do ser humano, com a mentira, com a inveja, com a mesquinhez, com o mau-humor e a maldade daqueles que jamais serão capazes de sorrir com gratidão.

Mesmo assim, continuarão a sorrir, a caminhar tranquilamente, a acordar com o propósito de ser e de fazer gente feliz, porque é assim que sua alma se torna cada vez mais rica e agraciada com as bênçãos que só quem é alegre com verdade está pronto para receber. Todos os dias.

Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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Marcel Camargo

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