Reportagem da BBC apurou as últimas horas de vida do morador de rua que faleceu na data de ontem, de hipotermia, na madrugada mais fria do ano na cidade de São Paulo.
Segundo a reportagem de Felipe Souza, já com frio e fome, Isaías de Faria, de 66 anos, foi até o centro de convivência São Martinho de Lima, na zona leste de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (18/05).
Após passar por uma triagem e pegar a senha para tomar o café matinal, refeição distribuída todos os dias naquela localidade, ele teve uma convulsão, caiu e faleceu ali mesmo, enquanto aguardava a refeição.
O corpo de Isaias ali permaneceu por cerca de 3 horas, coberto por um lençol branco, até ser levado pelo IML. Enquanto isso, o corpo ficou ali diante de dezenas de pessoas a espera e na esperança da primeira refeição daquele dia frio.
Dentre os que assistiram à morte de Isaías, estava Leonardo Oliveira, também morador de rua e colega de almoço diário de Isaías. Ele disse que estava ao lado do “irmão” na hora da morte:
“Quando eu cheguei, ele estava um pouco atrás de mim. Ele pegou a fichinha (para tomar café), foi ao banheiro, depois voltou, ficou um pouco perto da porta e caiu no chão. Não sentiu dor. Nem se mexeu. Do jeito que caiu, ele ficou. Depois, colocaram ele de lado, tentaram socorrer, mas não adiantou”, disse à reportagem da BBC.
Questionado sobre o medo da morte, Leonardo afirmou que não tem medo de morrer, mas que se sente triste:
“Sinto tristeza. Ele é um irmão. Todo mundo é irmão. Alguns mais diferentes dos outros, mas todos irmãos”.
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Leonardo resumiu à reportagem o que sabia da vida de Isaias:
“Pelo que sabemos da história dele, ele tinha um quartinho para dormir. O que acontece muitas vezes com as pessoas é que elas têm que escolher entre dormir e comer. E muitas vezes ele vinha comer na comunidade. E, para não ficar sozinho, acaba ficando na rua junto com os outros e acaba correndo esse risco.”
Confira a reportagem no vídeo da BBC:
Padro Júlio Lancellotti relatou que “Ele (Isaías) só fez o registro, caminhou dez passos e caiu. Os sinais vitais dele pararam. Veio a equipe médica para ver os sinais vitais e tentar reaquecê-lo. Quando o resgate chegou, ele já estava morto”.
Padre Júlio deixou orientações para quem quer ajudar?
“Os grupos se protegem entre si. O que ocorre é que às vezes, a pessoa ingere álcool e ela adormece. Mas o álcool é muito volátil, ele congela e a pessoa congela. Qualquer um de nós pode ter uma garrafa com uma bebida quente, um par de luvas ou uma touca para socorrer quando encontrar uma pessoa sozinha. Existe a baixa temperatura e existe a frieza humana”, disse.
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