Sobre o que realmente temos controle na vida? Às vezes, faço-me essa pergunta e chego à conclusão de que sobre pouquíssimas coisas. A vida é mesmo frágil, é a chama de uma vela, como diria Shakespeare. Além de frágil, é fugaz, passa rápido e, contemporaneamente, em um mundo de extrema fluidez, a sensação que tenho é de que a vida passa sem que eu possa, de fato, senti-la.
Temos que fazer mil e uma coisas em um dia, quando não temos condições de fazer cinco com qualidade. Cheios de obrigações e sem tempo para nada, as horas passam e a chama que nos mantém vivos fica mais fraca. Esse tempo não volta e, pior, não fica na memória, pois não o gastamos com o que de fato deveria ser gasto.
A obrigação em dar certo na vida não nos permite parar, ainda que não saibamos para aonde estamos indo. Essa maneira de se comportar intensifica-se com a vida, em uma sociedade capitalista, em que a obrigação em dar certo na vida resume-se a ganhar dinheiro. Vivemos sob o jugo da alta performance e exigências de um mundo cada vez mais dinâmico.
O que me preocupa é a forma como já estamos adaptados a viver dessa forma, sem questionar se essa é a melhor forma de viver, pois, como disse, a vida é breve e, por ser breve, deve ser aproveitada naquilo que realmente importa. Um dia a gente acorda, os anos se passaram e perdemos a oportunidade de deixar a nossa marca no mundo, de dar um abraço e de ganhar um sorriso. Ou seja, ser importante para alguém e fazer alguém importante.
Devemos produzir, devemos correr, devemos “ter” coisas para mostrar, como se objetos definissem pessoas, mas, mesmo que definam, são definições muito superficiais. Nessa busca incessante por um sem número de coisas, existem pessoas em lugares que não querem estar, em trabalhos que não trazem nenhuma felicidade, em relacionamentos vazios, e contentam-se, afinal, vendem-nos a ideia de que essa é uma vida feliz.
Nós a aceitamos, por medo, preguiça ou insegurança de viver uma vida que realmente faça jus à nossa existência e àquilo que somos. Acreditamos que a vida, dessa forma, é levada a sério, que estamos fazendo “coisas sérias”. Como é tola a sabedoria que os adultos carregam. Mal sabem que as areias da ampulheta chegam ao outro lado e suas vidas são vividas como a dos outros, sem diferenças, sem essência, sem nada que possa fazê-los importantes.
Tantas coisas que passam por nós ao longo da vida, tantas coisas que vêm e vão, tantos de que não nos lembramos, tantos que não se lembram de nós. Poderíamos ter nos ocupado de menos coisas, ter ficado mais tempo com o que faz o coração enternecer, chorado quando sentíssemos vontade e colecionado sorrisos para fortalecer a alma.
Mas não temos tempo para essas coisas. No mundo dos adultos, só há tempo para as coisas sérias, para fazer contas, para o racional. Desse modo, ao longo do tempo, vamos esquecendo quem somos e nos transformamos em máquinas ou qualquer outra coisa. Nem tudo pode ser contado e, assim, há coisas que somente são sentidas. Embora tenhamos nos ocupado muito em deixar de sentir. E nos orgulhamos disso, pois somos homens “sérios”.
“Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!” e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!”
Como a sabedoria do principezinho é diferente da nossa. Cegos da nossa razão, estamos inchados de orgulho de uma vida que nos afasta dos outros e de nós mesmos. Acreditamos que a felicidade está na grandiosidade ou quantidade. Guardamos tralhas que, no fim das contas, apenas nos deixam mais vazios. Tentamos cultivar milhares de pessoas, mas não temos tempo para cuidá-las e, logo, não colhemos nada.
Shakespeare disse que a vida é a chama de uma vela; Quintana, que a vida é breve; Niemeyer, que a vida é um sopro. Eu vos digo que a vida só vale a pena, quando com pequenas coisas se ganha um sorriso. Acho que a vida do homem contemporâneo não se adequa ao que penso, mas as pessoas grandes são muito esquisitas e isso não fui eu que disse, mas um frágil e pequenino sábio:
“- Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim… e não encontram o que procuram…
– Não encontram, respondi…E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d’água…- É verdade. E o principezinho acrescentou:
– Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração…”