O filme O Voo Sequestrado, que alcançou o topo da lista dos mais assistidos na Netflix, é baseado em uma história real ocorrida em 1993, quando a Nigéria vivia um dos períodos mais conturbados de sua história política.
O país, que havia passado por diversos golpes militares e regimes autoritários, enfrentava tensões após a anulação das eleições presidenciais daquele ano, o que gerou revolta em grande parte da população.
Em junho de 1993, as esperanças de uma transição democrática foram frustradas quando o resultado das eleições, que davam vitória ao oposicionista Moshood Abiola, foi anulado por ordem do governo militar.
Essa decisão desencadeou uma onda de protestos por todo o país, refletindo o descontentamento generalizado. Entre os muitos atos de resistência, um dos mais emblemáticos foi o sequestro de um avião por quatro jovens nigerianos, que se tornaram protagonistas de um dos eventos mais dramáticos daquele ano.
Em 25 de outubro de 1993, um voo da Nigeria Airways decolou de Lagos com destino à capital, Abuja. Contudo, o que parecia uma viagem tranquila foi subitamente transformado em um pesadelo quando o avião foi sequestrado por quatro adolescentes nigerianos: Richard Ogunderu, Kabir Adenuga, Benneth Oluwadaisi e Kenny Rasaq-Lawal. Motivados pela anulação das eleições, eles decidiram tomar o controle da aeronave como forma de protesto contra o regime militar que insistia em manter o poder.
Os jovens esperaram o momento certo para agir. Quando o sinal de retirada dos cintos de segurança foi ativado, eles se levantaram e anunciaram o sequestro. “Este avião agora está sob o comando do Movimento para o Avanço da Democracia”, declararam pelo sistema de comunicação do avião, tranquilizando os passageiros ao afirmar que ninguém seria ferido, desde que colaborassem.
Originalmente, o plano do grupo era desviar o voo para a Alemanha, mas com o combustível insuficiente para essa jornada, eles optaram por pousar em Niamey, na República do Níger. O avião foi imediatamente cercado por forças de segurança no aeroporto, e as negociações começaram. Os sequestradores exigiam a validação dos resultados das eleições e a posse de Moshood Abiola como presidente da Nigéria.
Os sequestradores estipularam um prazo de 72 horas para que suas exigências fossem atendidas, ameaçando incendiar o avião com todos os passageiros a bordo caso o governo não cedesse.
Durante as negociações, 34 passageiros foram liberados, mas 159 ainda permaneceram reféns, enquanto as autoridades tentavam encontrar uma forma de encerrar o sequestro sem colocar vidas em risco.
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O sequestro durou vários dias e, durante esse tempo, as autoridades nigerianas hesitaram em agir com força total, temendo que os jovens estivessem armados com explosivos. Contudo, na calada da noite, uma equipe de agentes de segurança invadiu a aeronave em uma operação surpresa. O avião foi alvejado por tiros, o que resultou na morte de pelo menos uma pessoa, conforme relatado por Richard Ogunderu, o líder do grupo.
Após a operação, Ogunderu e seus companheiros foram capturados, algemados e levados para uma prisão local, onde permaneceram por mais de nove anos. As condições da prisão eram precárias, com altas temperaturas nas celas e uma alimentação inadequada. Além disso, os sequestradores enfrentaram barreiras linguísticas, já que muitos dos guardas falavam apenas hausa ou francês, sem conhecimento de inglês.
Anos após sua libertação, Ogunderu refletiu sobre o ato que ele e seus colegas realizaram. Em entrevistas, ele explicou que o sequestro foi uma tentativa desesperada de chamar a atenção do mundo para a situação política da Nigéria e inspirar coragem nos cidadãos que, na época, viviam sob um regime opressor. No entanto, ele também admitiu que, embora a intenção fosse nobre, a maneira como agiram foi extrema.
O filme O Voo Sequestrado não só revive esse episódio da história nigeriana, como também provoca discussões sobre até onde as pessoas estão dispostas a ir em busca de justiça e liberdade. A história de Ogunderu e seus companheiros é um lembrete do preço que muitos pagam quando os sistemas falham em ouvir os gritos de sua população.
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