Quando mães, não raro ignoramos os nossos limites mentais e físicos e dedicamo-nos, além das nossa próprias forças, à honrosa missão de cuidar “do mundo”: cuidamos da casa; educamos os filhos, cuidamos dos filhos, cuidamos do marido, cuidamos do emprego, cuidamos da contas a pagar, das compras a fazer, da leitura que não pode ser adiada, do curso obrigatório que o trabalho exige… e cuidamos, cuidamos… e nos esquecemos de nós mesmas.
Na busca da perfeição nessas tarefas dignas de uma super-heroína, dificilmente paramos para pensar no quanto essa sobrecarga nos esmaga, física e psicologicamente, dia após dia.
Ocorre que somos contagiadas pela invisibilidade que a sociedade atribui ao que fazemos. Ao chegarmos do trabalho, há centenas de pequenas tarefas que nos esperam, todas invisíveis aos olhos sociais, que, somadas, nos levam à exaustão. São tarefas necessárias e quase todas não podem ser deixadas para amanhã. O banho do filho, o jantar do filho, a tarefa do filho, o sorriso de boa noite para o marido, que muitas vezes, pelo cansaço, custa a sair. Detalhes da limpeza e higienização do lar. Tarefa escolar dos filhos.
Essa sobrecarga invisível pode levar-nos a uma síndrome já bem conhecida da ciência: a Síndrome de Burnout. Essa síndrome corresponde a uma reação negativa do corpo diante de situações contínuas de estresse e extrema competição, quando a incerteza quanto ao futuro nos leva à insegurança, ao medo, à ansiedade.
Diante desse quadro tão ofensivo, especialmente à alma de uma mãe (ser dotado de sensibilidade maior), surgem-nos diversas doenças psicossomáticas, como ansiedade, depressão, problemas gástricos e intestinais, cansaço crônico e até mesmo fibromialgia.
Nos casos mais graves, diante de uma total apatia diante da vida, pode advir um quadro de enedonia (impossibilidade de sentir prazer). Assim, a pessoa perde, por completo, a alegria de viver.
Certa vez, quando estava com depressão pós-parto e abandonei uma pós-graduação que cursava, um professor me disse algo que nunca mais me esqueci. Ele disse: “Não é justo que a sua filha testemunhe, enquanto você alicerça o mundinho dela, a ruína existencial da própria mãe.” E emendou: “Você não tem o direito de permitir-se adoecer, de não olhar para si, de não amar-se.”
As palavras do meu professor ecoaram em minha alma e pude perceber o quanto eu me anulava na tentativa de ser a mãe perfeita, a advogada perfeita, a esposa perfeita, a cidadã exemplar, a aluna perfeita…
Foi quando vi que eu havia, na busca da perfeição e na ânsia de sempre superar a mim mesma nas tarefas invisíveis cotidianas, perdido a alegria de viver.
Então, quando penso no que dizer às mães por ocasião da comemoração do seu dia, eu digo: encarem a maternidade com alegria. Encarem a sua neura com a perfeição como uma escravidão que merece ser abolida por um ato libertário de amor próprio. Encare o pai dos seus filhos como um companheiro que deve carregar, ombro a ombro, a mesma carga que você. Se ausente e indiferente for o pai, encare-o como um desertor que haverá de responder, perante o tribunal da própria consciência, um dia, por sua covardia ou por sua incapacidade de amar.Mas a deserção dele não é responsabilidade sua. Não carrege mais essa carga.
E, finalmente, é hora de festejar o seu dia. Que seja um dia de analisar se é justa a sobrecarga doméstica que você atrai para si. De analisar se esses sintomas que você sente não são já o alarme da Síndrome de Burnout.
Que seja o dia de festejar a ousadia de um ser imperfeito, falho, precário, eterno aprendiz, mas que teve a ousadia amar, de ceder lugar em seu ventre para florir novas vidas, e que precisa aprender, a cada dia mais, a saber que que não precisa fazer mais do que pode para ser o infinito que é.
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