Faz algum tempo, após uma palestra sobre direitos humanos, sistema prisional e superação da violência, um rapaz, estudante, aproximou-se e com a voz baixa fez quase um depoimento/desabafo para mim.
Contou que havia perdido o irmão, assassinado, há cerca de três anos e que na época, quando ouvia falar a meu respeito, sentia um ódio muito forte e me lançava ofensas, não entendendo como eu podia “defender bandidos”.
Porém, com o passar do tempo, procurando conhecer o meu trabalho de juiz da execução penal, ler o que eu escrevia e ouvir o que eu falava, entendeu que o que eu buscava, a causa que eu defendia, era de menos violência, menos vítimas, mais fraternidade.
Ele chorou diante de mim e me abraçou, pedindo desculpas. Eu correspondi ao abraço, mas disse que ele não me devia desculpas. Somos todos humanos, todos sofremos e em momentos graves de nossas vidas, quando o calo aperta, corremos o risco de nos rendermos à barbárie.
O ódio cega e machuca tanto quem o sente quanto quem o recebe, talvez mais quem o sente. Conto sobre esse episódio, com detalhes propositadamente alterados para preservar assim o rapaz, como forma de confirmar o que sempre digo: o ser humano é uma promessa, jamais uma ameaça!
Joao Marcos Buch – Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais e Corregedor do Sistema Prisional da Comarca de Joinville/SC
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Créditos da Capa: Banksy
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