Por: Maria Augusta da Silva Caliari
A GENTE VAI EMBORA e fica tudo aí,
os planos a longo prazo e as tarefas de casa,
as dívidas com o banco,as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.
A GENTE VAI EMBORA sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, a roupa fica no varal.
A GENTE VAI EMBORA, se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos, a vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas normalmente.
A GENTE VAI EMBORA as brigas, as grosserias, a impaciência, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.
A GENTE VAI EMBORA e todos os grandes problemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio, não existem problemas.
Os problemas moram dentro de nós.
As coisas têm a energia que colocamos nelas e exercem em nós a influência que permitimos.
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A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua caótico, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença.
Na verdade, não faz.
Somos pequenos, porém, prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que a morte anda sempre à espreita.
A GENTE VAI EMBORA, pois é.
É bem assim: Piscou, a vida se vai.. .
O cachorro é doado e se apega aos novos donos.
Os viúvos se casam novamente, fazem amor andam de mãos dadas e vão ao cinema.
A GENTE VAI EMBORA e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos na empresa.
As coisas que sequer emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.
Quando menos se espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem espera morrer?
Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor.
Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, fizesse amor hoje,
Talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço.
Talvez a gente esperasse menos dos outros,
Se a gente esperasse pela morte, talvez perdoasse mais, risse mais, saísse à tarde para ver o mar, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.
Quem sabe, a gente entendesse que não vale a pena se entristecer com as coisas banais,
ouvisse mais música e dançasse mesmo sem saber.