Vi mãe e filha vestidas iguais na rua e torci o nariz. Uma mulher furou a enorme fila para pegar o elevador. Roubaram minha vaga no estacionamento, sem a menor cerimônia. Meu marido não levou o lixo de dois dias atrás para fora e o delivery demorou mais de uma hora para chegar.
Apesar dos problemas pequenos, não era nem meio-dia e eu já havia contado cinco reclamações que poderia ter feito, mas evitei verbalizar. O desafio era ficar uma semana sem criticar, queixar-me ou falar mal de ninguém e depois contar a experiência em texto. Foi um esforço que não durou nem 24 horas. Maldizer, para a maioria dos mortais, é um hábito tão cotidiano que, quando você vê, já foi. Fracassei no desafio e, novamente, julguei alguém: a mim mesma.
Uma pessoa que não reclama de nada, não tem opinião nem critica ninguém não seria saudável. Quando não nos policiamos, porém, corremos o risco de ultrapassar o limite aceitável de ranzinzice e cair no isolamento. Ninguém quer ser contaminado pela energia de quem reclama demais ou fala mal dos outros o tempo todo.
Reclamações são contagiosas. Você tem o hábito de reclamar em grupo? Ocorre muito com colegas de trabalho, que têm o mesmo alvo — um chefe que desagrada, por exemplo — em comum. Amigos de longa data também tendem a ter as mesmas vítimas preferenciais, afinal, reclamar da vida sozinho não tem a menor graça e, convenhamos, a gente sente um certo prazer nesses momentos.
“Reclamar é como o hábito de beber no bar, é uma atividade social. Você se reúne, todo mundo desabafa, é fácil achar assunto, se sentir querido e parte do grupo, especialmente quando todos concordam com a sua opinião”, explica a psicóloga, coach e terapeuta comportamental e cognitiva Thaís Petroff.
É como se um copo estivesse cheio. Aí você reclama e ele esvazia até a metade. Você se irrita, ele enche de novo. Você reclama e esvazia. É vicioso. Mas, no fim, esse comportamento não muda nada. Reclamar é mais fácil do que tomar atitudes e mudar aquele relacionamento que te desagrada”
Thaís Petroff
Reclamar é uma válvula de escape da emoção desconfortável. Acaba sendo uma saída fácil. Mas, quando ocorre com frequência, isso acaba tendo alguns efeitos negativos. Um deles é que crítica e reclamação são coisas viciantes e roubam energia que poderia ser usada em ações mais práticas para mudanças.
“Aquela energia motivadora que você teria pra entrar em ação, pra fazer algo com relação ao que te incomoda, ela diminui. O impulso que você tem para resolver a situação, botar a mão na massa, você gasta criticando e reclamando. Sobra menos energia para, efetivamente, fazer algo concreto que vá ocasionar mudança”
Além disso, lamentar-se demais pode até fazer mal para a saúde. “A liberação excessiva do hormônio do estresse, o cortisol, por exemplo, não faz bem para o coração e sobrecarrega o fígado. Você alimenta a raiva quando reclama e, consequentemente, libera hormônios.”
A ideia não é ignorar, mas reconhecer as emoções e fazer alguma coisa com elas. Por exemplo: é mais fácil reclamar que alguém jogou o lixo no chão do que se juntar com outras pessoas e limpar a cidade”
Thaís Petroff
O primeiro passo é prestar atenção nas próprias emoções. Coloque-se como um observador das situações. Olhe para si mesmo como quem observa um quadro. Técnicas de mindfulness, também conhecida como atenção plena, podem ajudar nesse sentido. Inspirado na meditação budista, esse método ajuda a diminuir a intensidade dos pensamentos, a limpar a mente.
Quando sentir algo como raiva ou vontade de criticar, preste atenção em como você recebe esses sentimentos. Por que você sentiu raiva? Por que aquilo te incomoda? Nem sempre você encontrará respostas, mas poderá descobrir mais sobre você se parar de apontar o dedo para os outros e refletir sobre si mesmo.
“Reclamar do outro vem mais do não perceber a gente mesmo. Não dá para generalizar que em 100% das vezes esse é o motivo, mas sempre que você se incomoda com algo isso diz alguma coisa a seu respeito”, diz a psicóloga.
O que você pode fazer com relação a isso? O problema é mesmo o governo, o marido, o filho, o vizinho? Você se desresponsabiliza de qualquer coisa quando fala mal. O outro é um lugar horroroso”
Thaís Petroff
Toda vez que for escovar os dentes, escove com a mão oposta à habitual. Assim, você vai estar mais atento àquele momento. Pode parecer “viagem”, mas isso é um treinamento para estar inteiramente entregue ao que você está fazendo.
Tome banho prestando atenção no que está fazendo: sinta a água, a sensação do sabonete.
Para quem tem filho: quando você sentar-se para brincar, deixe o celular de lado. Viva cada momento inteiramente.
Pratique o olhar sem julgamento. Afaste-se da situação que te irrita e tente enxergá-la de fora, como quem olha para um quadro.
“Muitas vezes a ranzinzice pode ser consequência de um transtorno emocional, que precisa de tratamento. Há um tipo de depressão leve e crônica que se chama distimia e traz um mau humor e negatividade constantes. Estar com essas pessoas é bastante difícil, porque elas nem sempre têm consciência do que fazem e das consequências”, explica Thaís Petroff.
“É uma tarefa muito difícil, porque a gente se irrita. Mas, se quiser ajudar, não seja agressivo. Tente apontar o hábito sem atacar a pessoa. A gente só ajuda quem quer ajuda também, tem que observar se a pessoa está aberta. Você pode fazê-la perceber que há outras maneiras de refletir sobre os próprios hábitos.”
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