Em 2015, a graphic novel “Corpos”, criada por Si Spencer (1961 – 2021) sob o selo Vertigo, surgiu no cenário literário. A obra não alcançou o estrelato nas vendas, mas conquistou uma parcela significativa da crítica especializada.
Este renomado autor, com experiência em séries de TV, incluindo “Torchwood”, entregou uma história que estava destinada a se tornar uma adaptação de sucesso nas telas. Com personagens intrigantes, reviravoltas empolgantes e uma estrutura propícia para um formato seriado, “Corpos” rapidamente se tornou uma minissérie britânica lançada na plataforma de streaming Netflix.
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Sem revelar nenhum spoiler, “Corpos” pode ser descrita como uma trama policial que evoca lembranças de “Dark”, mas com uma abordagem mais madura e menos complexa.
No entanto, a série é habilmente construída, repleta de elementos como loop temporal, viagem no tempo e um intrigante mistério. Tudo começa em 2023, quando a detetive Shahara Hasan (interpretada por Amaka Okafor) é convocada para atuar durante uma manifestação de extrema-direita em Londres e faz uma descoberta chocante: um corpo nu com um buraco de bala no olho.
A trama então nos leva de volta a 1941, durante os bombardeios alemães a Londres, onde o detetive Charles Whiteman (interpretado por Jacob Fortune-Lloyd) recebe um chamado para resgatar um corpo abandonado no mesmo local onde Hasan fez sua descoberta.
O enigma se torna ainda mais complexo quando percebemos que se trata do mesmo corpo. No decorrer da série, esse corpo misterioso também surge em 1890 e 2053, sendo encontrado por outros detetives, interpretados por Kyle Soller (Alfred Hillinghead) e Iris Maplewood (Shira Haas).
Cada linha do tempo apresentada na série é habilmente desenvolvida, caracterizando personagens que não se sentem plenamente à vontade em seus respectivos momentos históricos.
Questões profundas como religião, preconceito, capacitação e sexualidade são abordadas de maneira sensível e natural, pois se entrelaçam com o desenvolvimento dos protagonistas. A narrativa de “Corpos” nunca corre, proporcionando ao espectador tempo para criar teorias e desvendar os mistérios apresentados. A série se destacaria mesmo com episódios semanais, pois evita se precipitar na trama, permitindo que os eventos cresçam organicamente.
As conexões entre as diferentes linhas do tempo são estabelecidas gradualmente, sem pressa ou forçação de barra. Quando o espectador percebe, está diante de uma história grandiosa, com laços que se conectam a personagens anteriormente apresentados.
A narrativa compreende a importância de manter um ritmo constante para prender o público, e, assim, todos os oito episódios da série oferecem clímax cativantes. Cada detetive também lida com questões pessoais que se entrelaçam com a trama principal, adicionando camadas de complexidade à história.
Além disso, “Corpos” apresenta conceitos de ficção científica sólidos, sobretudo na linha do tempo de 2053, que retrata um mundo cheio de inovações, mantendo-se, contudo, próximo da nossa realidade. A série respeita as convenções da viagem no tempo, sem recorrer a teorias mirabolantes, simplificando o processo e evitando didatismo desnecessário.
Os espectadores familiarizados com o gênero entendem a dinâmica e aceitam que o futuro pode ser alterado se o passado for modificado.
A produção impecável de “Corpos” merece destaque, uma vez que a série envolve quatro épocas distintas, todas com locais em comum. A série utiliza paletas de cores e iluminação específica para cada linha narrativa, criando uma atmosfera única para cada período histórico.
Os figurinos são excepcionais, mas a maquiagem, embora limitada pelas técnicas tradicionais, não acompanha o mesmo nível de excelência. A tentativa de envelhecer os atores por meio da maquiagem deixa a desejar em alguns momentos, o que, no entanto, não compromete a experiência.
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Fonte: TCTD
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