Todas as vezes que destruíram meus sonhos, eu os refiz. Um por um. Costurei todas as partes, colei todos os cacos, pintei todas as lacunas, até que, contente, os vi refeitos.
E quando não foram os meus sonhos, mas eu a ser diminuída. Sangrei minhas dores, chorei minhas feridas, mas cuidei de cada uma delas para, depois de tudo, me ver ainda mais forte.
Pois, não sou de vidro, para me quebrar e morrer no piso da desesperança. Não sou de pano para que me façam de trapo e pano de chão. Não sou de ferro, para virar faca e espeto.
Eu sou de carne. Sou de carne, osso e sentimento. E chorei por dentro todos os gritos que me forçaram os ouvidos. Estremeci pelas acusações grosseiras. Pela falta de amor. Mas não caí, pois não sou castelo de cartas que se desfaz com um sopro, tão pouco um de areia que pode ser estupidamente pisoteado.
Tenho paciência de sobra, mas o tempo me ensinou que é melhor tomar distância de quem não me estima.
Sigo então meu caminho, reconstruindo meus alicerces em outros cantos. Cantos gentis nos quais borboletas não apenas voam, mas dançam.
Não tenho mais medo de buscar no mundo novos caminhos. Não tenho mais medo de me fazer bonita e soltar meu coração, como quem solta um cão encoleirado, em um grande parque repleto de flores lindas e selvagens.
E quando permito que meu coração corra de um lado para o outro, animado e exultante, esqueço das coisas ruins e sigo em frente.
Se me gritam ao longe, como quem grita uma blasfêmia. Faço que não é comigo. Não dou mais bola para quem ofende. Quero distância dos que gostam de ser os donos da verdade. Não quero ser dona de nada, nem de ninguém. Fui despertada de um sonho por um príncipe que saiu para comprar cigarros e não voltou. Os contos de fada não me cabem mais.
Por favor, não me chamem de princesa. Eu cresci. Virei rainha de mim. Não vivo mais nesse reino no qual um rei profano perambula na barriga das pessoas. Não quero ter razão. Quero ter paz para viver tudo que sou.
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