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Leitura de belos trechos de “Mulheres de Cinzas”, de Mia Couto

A minha leitura do livro “Mulheres de Cinzas”, de Mia Couto

Acabo de concluir a leitura de “Mulheres de Cinzas”, último romance escrito por Mia Couto. É o primeiro livro de uma trilogia denominada “As Areias do Imperador”, publicado, no Brasil, pela Companhia das Letras.

A história se passa em Moçambique, no final do século XIX. O sargento português Germano de Melo é enviado (degredado) para um povoado moçambicano com a missão de guerrear contra um imperador que resistia às forças coloniais: Gungunhane. Nesse vilarejo, o sargento encontra uma jovem nativa, Imani, que lhe servirá de intérprete e professora da língua local.

O vilarejo em que está situado o quartel onde serve o sargento Germano é Nkokolani. Ali habitam os VaChopi, uma tribo que se opôs ao Imperador Gungunhane e prestava “vassalagem” a Portugal. Na família de Imani, os corações e ânimos se dividem. Enquanto o seu irmão mais velho se uniu ao exército do imperador africano, o menor estava entre os que lutavam pela Coroa Portuguesa.

De pronto, o sargento sente-se atraído pela beleza e singularidade de Imani. A moça é orientada pelo pai a entregar-se ao branco, esperançoso de que esse romance venha a tirar a filha das agruras daquelas terras.

Se me convidassem a dizer da essência do livro, diria que é, acima de tudo, uma sensível e singular descrição de uma realidade inerente a todas as guerras. Realidade onde não existem mocinhos ou bandidos, heróis ou vencidos. Onde a dor eterniza-se na saudade dos mortos tombados nos campos de batalhas que mal compreendem, e na indignação pelo sangue vertido das entranhas das mulheres violadas na sede das tropas. Na animalia daqueles que, parafraseando Mia Couto, ao vestirem a farda, se despem da alma.

A guerra a todos iguala. Aqueles que querem o domínio dos povos e a posse das terras subjugam, aniquilam, escravizam com a mesma disposição psíquica.

A tragédia dá a tônica da história narrada em grande parte por Imani e pontuada pelas cartas escritas pelo sargento a um de seus superiores.

Neste livro, Mia Couto distancia-se ainda mais de seus escritos roseanos. Há menos poesia e inexistem os neologismos que tanto marcaram a maior parte de seus escritos anteriores.

Não questiono as fases e “faces” do escritor. A escrita flui de modo peculiar a cada um. Formatos e temáticas se esgotam e o escritor sente a necessidade de refazer-se. De reconstruir-se.

A tal respeito, diversas vezes vi Mia Couto queixar-se do excesso de poesia de suas obras, dizendo que essa poesia “atrapalhava a sua prosa”. De fato a leitura deste livro é mais fluida O estilo não sobrepuja a história.

É um livro que fala de mulheres que peneiram sóis e semeiam estrelas. Mulheres sem nome: aquelas que esperam por seu homem para que sejam alguém. Aquelas cuja nudez do corpo nada revela das turvas águas de suas almas ou da agudeza do intelecto. Destas que choram rios e adestram tempestades, mas que, na escuridão dos seus dias, podem ser confundidas, quem sabe, com “mulheres de cinzas”.

Abaixo, a leitura de belíssimos trechos do livro.
Por Nara Rúbia Ribeiro

Revista Pazes

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