Celebrando o dia internacional das Mulheres, venho apresentar-lhes algumas de nossas bases violonísticas femininas que, cada uma ao seu modo, contribuíram e enriquecem o panorama profissional e amador brasileiro.
Desde que viuhela é viuhela, guitarra (acústica) é guitarra e violão é violão, as mulheres estão fortemente presentes entre os amantes e articuladores deste instrumento, que para muitos é sinônimo de cultura brasileira. No nosso país, muito pouco se fala de nossas gloriosas intérpretes do violão clássico e quando o assunto é violão popular, o descaso pode ser ainda maior.
Infelizmente, por aqui, para um artista comparecer ao imaginário do grande público, é necessário conseguir um nível de virtuosismo muitas vezes maior que a própria arte provocada. Com isso, não somente mulheres, mas, um incontável número de grandes intérpretes e artistas das cordas ficam de fora da “brincadeira”, no anonimato.
Temos, ainda, dois agravantes para que as mulheres não aparecessem tanto na cena violonística brasileira. O piano foi o instrumento mais representativo da nossa sociedade e durante muito tempo, foi visto pela maioria como o instrumento das mulheres. O segundo ponto é a retrógrada visão que os mesmos tinham sobre o violão, considerando-o um instrumento da boemia e até mesmo de vagabundos. Para a nossa felicidade, essas duas grandes bobagens já caíram no esquecimento e o que eu tenho percebido, hoje em dia, é um número maciço de homens dominando a arte do piano e o violão sendo altamente respeitado, não somente como instrumento de grande capacidade como também um autêntico veículo para a acensão humana.
Mesmo assim, eu venho aqui, minhas amigas e meus amigos, para mostrar a arte de verdadeiras virtuoses do instrumento, desconhecidas também por violonistas e estudantes das novas gerações.
Maria Lívia São Marcos
Ainda jovem, radicou-se em Genebra, Suíça e sua discografia é de causar impacto aos apaixonados pelo violão, uma extensa lista de discos gravados, contando com obras de grande relevo do repertório erudito universal.
Maria Lívia interpreta com todo cuidado de uma concertista consolidada. Sua técnica é suficiente para explorar boas ideias e sua interpretação é limpa e clara. Não sobra nada de sonoridades alheias, notas indesejadas ou esbarradas, principalmente aquelas notas que precisamos apagar conforme a escrita nos indica na pauta e muitas vezes deixamos passar…
Abaixo, Variações Sobre Flauta Mágica de Mozart, do compositor clássico espanhol Fernando Sor. Uma obra muito apreciada entre os violonistas e muito exigente por sinal. Ao ver Maria Lívia tocando, da uma leve sensação de que tudo pode ser resolvido. As passagens mais difíceis são resolvidas sem grandes pretensões e a obra flui naturalmente. É muito gostoso apreciar uma peça que pode ser uma grande demonstração de virtuosismo nas delicadas mãos de uma sensível violonista!
Momentos mágicos na genial obra do cubano Leo Brouwer (lenda viva!). A obra El Decameron Negro ( A Harpa Do Guerreiro) exige muita maturidade interpretativa. Há momentos em que as ideias são bem delicadas e precisam ser expressadas com tamanha delicadeza, porem, respeitando a pulsação, o que é um grande desafio emocional. Nossa intérprete consegue a façanha!
Angela Muner
Angela Muner é um prodígio. Estreou sua carreira de intérprete ainda aos dez anos de idade, quando deu o seu primeiro recital e gravou seu primeiro disco.
Nossa concertista Integra o quadro de professores de violão do famoso conservatório de Tatuí, considerado uma referência no ensino de violão clássico no Brasil.
Abaixo, Angela interpreta o Choros nº 01 de H. Villa Lobos e a sua grande sonoridade robusta nos enche de alegria ao balançar a obra brasileira de modo bem polido. Toca ao vivo como se estivesse na varanda de sua casa, perfeito!
Abaixo, Granada do compositor nacionalista espanhol Isaac Albeniz. Haja mão esquerda para sustentar essa primeira parte! A obra exige grande demanda de resistência, onde uma parte da energia é voltada para manter as notas dos acordes vibrando, enquanto que a melodia passeia pelo registro grave do instrumento em intenso lirismo.
Vamos conferir sua interpretação de Sevilla – I. Albeniz em toda energia que a música merece, uma verdadeira festa! Há momentos de muita intensidade, onde ela solta a mão com vontade e nos enche de desejo, de pegar o violão e sair rasgando os acordes e as escalas!
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