Literatura

“Odisséia da Alma”, o primeiro livro de poemas do moçambicano Morgado Mbalate

No último trimestre de 2016 foi publicado, em Portugal, o livro “Odisséia da Alma”, do jovem poeta Moçambicano Morgado Mbalate.

A Revista Pazes transcreve, abaixo, a nota de apresentação do livro, escrita por Nara Rúbia Ribeir.

“Sei que me pediste um prefácio, mas nenhum escrito pode ser tão suspeito quanto um prefácio. Raramente leio algum. Quem o escreve vê-se na obrigação de cotejar a obra, de defende-la, de fazer com que ela se apresente desta ou daquela forma ao leitor.

Para isso, é necessário que o prefaciador seja hábil delineador de conceitos, profundo conhecedor de teorias literárias e que se sinta autoridade no assunto abordado. Esse não é o meu caso. Sou apenas uma mulher com poucos saberes, muitas incertezas e fartas indagações. Alguém que busca na poesia a brisa fresca que acaricia a face em meio à tempestade dos dias.

Li o teu livro com o cuidado de quem folheia o tempo. Vi, em teus escritos, o encantar poético da minha adolescência. Vi ainda a lassidão de sentidos, a displicência temática, a busca pelo simples, pelas insignificâncias, a ânsia pela vida acentuada no encantamento ingênuo com os mundos que te cercam, no que os teus versos me fizeram recordar dos primeiros poemas do poeta brasileiro Manoel de Barros.

Manoel foi mestre maior na impossível arte de “voar fora da asa”. Dos versos de Manoel, brotavam lagartos e sapos. Bernardo reinava absoluto no semear das rãs. Trapos, ciscos, insignificâncias diversas adquiram a altivez dos mais caros tesouros, na glória tecida pelo poeta que preferia os passarinhos aos Senadores.

Vejo a tua tendência de ser um aprendiz de Manoel. E quem é que não gostaria de ser seu aluno e percorrer, nas trilhas na alma, os brejos, a calma, a traquinagem daquele eterno menino?

Deixo, então, a ti, não um prefácio, mas uma rogativa. Que dos seus versos floresçam sempre o melhor que há em ti. Que te encontres a cada dia em cada poema, em cada inspiração, em cada novo encantamento.

Que as agruras do teu povo sejam inspiração para um sempre novo e maior poema. Que nenhum obstáculo interior te impeçam de sentir a poesia, de viver em poesia, de transcender o concreto e de mergulhar na lógica abstrata que norteia o seu mundo.

Que “Odisseia da Alma” seja o primeiro de muitos livros. Que seja o primeiro marco de uma vida entregue e dedicada à escrita. E que, ao presenteares o mundo com o melhor de ti, a vida a ti reserve uma porção redobrada, transbordante e abastada de poesia.

Nara Rúbia Ribeiro”

Para conhecer um pouco mais da biografia e ler poemas de Morgado, clicar AQUI.

Revista Pazes

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