Texto de Fabíola Simões publicado originalmente em A Soma de Todos os Afetos
Começou com a leitura do livro da Marie Kondo: “A mágica da arrumação”. Depois vieram os vídeos da Fê Neute no YouTube e o documentário “Minimalism” no Netflix. Eu estava encantada e ao mesmo tempo queria compreender esse movimento novo, que surgiu há alguns anos e que eu nunca tinha ouvido falar. Eu queria descobrir o tão aclamado “Minimalismo”.
Constatei que não sou nem nunca serei minimalista de carteirinha; porém, me interessei em trazer para minha rotina muito dessa filosofia que faz uma reflexão sobre os excessos, sobre o consumismo desenfreado e perda de controle e liberdade. O minimalismo resgata a consciência sobre aquilo que você realmente precisa ter na sua vida, e busca valorizar o que traz felicidade, o que merece ser mantido e o que deve ser descartado. Isso se aplica não somente aos bens materiais, mas se estende também a outras esferas da vida, como aos pensamentos e relacionamentos.
Estamos carentes de simplicidade. Depois de adquirirmos o prazer da conquista, de sermos possuidores de grande parte daquelas coisas com as quais sonhamos há tanto tempo, estamos percebendo que falta algo mais. Falta essência. Falta qualidade. Falta significado. Falta alma. Estamos cansados de excessos. Estamos fartos daquilo que ocupa nosso tempo e energia sem trazer em troca a tão almejada felicidade. Estamos exaustos de consumir sem ter tempo de usufruir. Estamos admirados de como viramos reféns de um estilo de vida que tira nossa paz e liberdade ao ditar a moda e impor a busca constante pelo último modelo. Estamos desejosos de fazer o caminho de volta…
É preciso aprender a selecionar. Selecionar nossos objetos, nossos afetos, nossas lembranças do passado, nossas tralhas e roupas. Só manter aquilo que merece prevalecer. Só deixar ocupar espaço aquilo que nos traz bem-estar. Só ser possuidor daquilo que não complica nem atrapalha o andamento de nossa vida. Organizar fora e dentro de nós. Nos cercar de menos, para ter mais: mais tempo, mais liberdade, mais felicidade. Descartar o hábito de consumir sem consciência, trocando de modelo a cada temporada, acreditando que a vida é tão volátil e descartável quanto os objetos Xing ling que foram feitos para não durar. Aprender a resgatar o que é simples e durável. O que é modesto e eterno. O que é suficiente e traz felicidade. O que parece ser menos, mas adquire significado por ser único.
Quando descobri que o minimalismo prioriza a qualidade em vez da quantidade, me lembrei da bochechinha, minha única boneca, que ganhei no meu aniversário de nove anos. Eu só tinha aquela boneca, e por isso meu cuidado com ela era tão grande. Isso a tornou especial, importante, única. Tão especial que, quando minhas primas vinham passar férias na minha casa, ficavam fascinadas pela minha boneca, e contavam os minutos para chegar a hora em que poderiam pega-la no colo. Elas, que tinham o quarto lotado das mais variadas bonecas, de todos os estilos e até mais bonitas que a minha, enxergavam em minha “quase filha” uma aura de encantamento que não enxergavam em nenhuma outra. Como diz uma das frases do Pequeno Príncipe: “Foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez tão importante…”
Existe uma grande diferença entre simplificação e privação. Não quero me privar de ter uma bolsa bacana, um scarpin salto agulha ou um vestido colorido para usar na primeira comunhão do meu filho. Porém, ao escolher adotar alguns aspectos minimalistas, eu decido que um scarpin preto terá muito mais serventia e me trará muito mais alegria que uma bota tipo meia, proclamada aos quatro ventos pelas blogueiras, que fatalmente ficará encalhada no meu closet pelo resto da vida. Ao decidir simplificar, aprendo a optar. A fazer boas escolhas. A consumir menos e com consciência. A escolher produtos com maior durabilidade e usabilidade. A não encher minhas gavetas com porcarias baratinhas que só me trarão alegria momentânea. A não complicar. A não acumular. A me conhecer. A saber o que me traz paz. A descobrir meu estilo particular de ser e estar no mundo.
É hipocrisia dizer que a aquisição de bens materiais não traz felicidade. Porém, é necessário refletir sobre os excessos. Sobre o acúmulo. Sobre o que está por traz da nossa necessidade de nos cercar de tanta coisa que nem usamos ou nem sabemos que temos. Sobre a nossa desorganização. Sobre a incapacidade de usarmos tudo o que temos até o fim, ou antes que o produto vença. Sobre nossa necessidade de enchermos nossas gavetas, nossos armários, nossa casa e nosso interior com tanta tralha. Sobre a insatisfação. Sobre nosso comportamento automático e habitual. Sobre a dificuldade de, atolados sob tanta bagunça e informação, descobrirmos quem somos de fato.
Adquirir hábitos minimalistas não se trata obrigatoriamente de adotar um estilo clean, ter uma casa sem móveis ou usar roupas só brancas, pretas e cinzas. Se trata, acima de tudo, de descobrir quem você é, o que quer da vida, e o que as coisas que você tem representam para você. Após descobrir isso e abraçar o que realmente é essencial, você estará rodeado somente do que faz sentido para você, do que é importante e te faz bem. Finalmente estará cercado de calma, envolvido por aquilo que lhe aquece a alma, e certamente muito mais feliz…