Abaixo, segue matéria publicada pelo site ONU Brasil, onde a Organização faz, por meio de um de seus especialistas, severas críticas ao uso exclusivo de medicamentos. Confira:
Em alerta sobre a necessidade de abordagens mais equilibradas para enfrentar a depressão, o relator especial da ONU sobre o direito à saúde, Dainius Pūras, defendeu na semana passada (7) que o tratamento do transtorno mental não deve confiar apenas no uso de medicamentos.
Lidar com a doença, segundo ele, implica combater violência, abusos e desigualdades que frenquentemente estão na origem da patologia. Países deve mudar o foco dos ‘desiquilíbrios químicos’ para os ‘desiquilíbrios de poder’ na sociedade.
Em alerta sobre a necessidade de abordagens mais equilibradas para enfrentar a depressão, o relator especial da ONU sobre o direito à saúde, Dainius Pūras, defendeu na semana passada (7) que o tratamento do transtorno mental não deve confiar apenas no uso de medicamentos. Lidar com a doença, segundo ele, implica combater abusos e desigualdades socais que frenquentemente estão na origem da patologia.
“Lamentavelmente, as últimas décadas foram marcadas por uma excessiva medicalização da saúde mental e pelo uso excessivo de intervenções biomédicas, incluindo no tratamento da depressão e na prevenção do suicídio”, afirmou o especialista em direitos humanos.
Para Pūras, medicamentos não deveriam ser aceitos como soluções comuns para problemas intimamente relacionados a questões sociais, como violência e outras adversidades que fazem parte do ambiente emocional de uma pessoa.
O relator lembrou que pesquisas recentes têm sugerido vínculos entre a depressão, dificuldades vividas na infância, situações de insegurança e risco — frequentemente associadas a questões de gênero — e o impacto desproporcional que tais circunstâncias têm sobre indivíduos em situação de pobreza e exclusão.
“Convoco os Estados-membros a reorientarem seus investimentos em saúde mental, passando do foco em ‘desequilíbrios químicos’ ao enfrentamento dos ‘desequilíbrios de poder’ e desigualdades”, enfatizou o especialista.
“Os fatores de risco para depressão e para o comportamento suicida devem ser reduzidos, ao mesmo tempo em que devem ser encorajadas políticas que protejam (a população) contra eles e melhorem a resiliência individual e comunitária”, acrescentou.
Pūras explicou que “intervenções biomédicas continuam sendo uma importante opção de tratamento para a depressão severa e outros problemas de saúde mental”. “Contudo, o uso de medicamentos psicotrópicos como a primeira linha de tratamento, especialmente para casos leves e moderados de depressão, é simplesmente infundamentada pelas evidências científicas”, alertou.
Para o especialista, outras opções de tratamento devem ser disponibilizadas. “Na maioria dos casos leves e moderados de depressão, a conduta expectante (termo médico para o acompanhamento e a vigilância de condições de saúde sem intervenções mais pontuais), a interação humana, o diálogo e a escuta podem ser tudo que é necessário. Essas intervenções têm de ser consideradas tratamentos ‘de linha de frente’”, disse.
De acordo com o relator, “intervenções psiquiátricas não são necessárias em muitos casos e o cuidado e apoio apropriados podem ser oferecidos por profissionais de atendimento como médicos da família, enfermeiros comunitários e assistentes que realizam visitas às residências dos pacientes”.
Saúde mental na América Latina
Na América Latina, 22,4% da população sofre com distúrbios mentais como depressão ou ansiedade severa. Em países como Brasil e Paraguai, cerca de 10% dos anos vividos com incapacidade estão causalmente associados a essas doenças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Também na semana passada, o Banco Mundial lembrou que os gasto anuais trazidos por transtornos mentais é estimado num valor que varia de sete a nove dólares por pessoa na América Latina e no Caribe. Em contrapartida, cada dólar investido na ampliação do tratamento para depressão e ansiedade leva a um retorno de quatro dólares em saúde e capacidade de trabalho da população.
“Não há separação entre doença física e mental. Não é mais possível encarar a depressão de forma diferente de uma enfermidade de coração”, defende o especialista do organismo financeiro, Patricio Márquez.
Para ele, é preciso que as autoridades garantam por meio de leis e regulações acesso a tratamentos tanto no sistema público quanto no privado. Abordagens também devem ajudar sociedade a superar o estigma ainda existente com relação aos portadores de distúrbios mentais.