Texto de Marcel Camargo
A gente deixa muito de fazer, de ser e de viver o que queremos, por conta de ficar pensando nos outros e, pior, por conta de pessoas que não sabem nem nosso sobrenome ou nossa idade. Reprimimos, dentro da gente, desejos, vontades, palavras, sentimentos, que vão se acumulando onde nem tem espaço, até se transformarem em doenças, em tristeza sem fim, em frustração eterna.
Não poderemos viver apenas de acordo com o que quisermos, sem pensar em ninguém mais, uma vez que convivemos com outras pessoas que podem ser alcançadas por nós. No entanto, teremos que agir conforme o ritmo de nosso coração, sem ferir ninguém, ou viveremos feito fantoches nas mãos alheias. Na maioria das vezes, a gente deverá vir em primeiro lugar, para que sejamos autênticos e seguros o suficiente para amar e ir ao encontro de almas afins.
Em alguns momentos, a gente terá que se esquecer do que quer, pois o outro estará precisando de nossa ajuda, de nosso olhar, de nosso afeto. Abrimos mão de algumas coisas pelas pessoas que nos amam e torcem por nós, mas não a ponto de entregar nossa dignidade ao outro. Muitas vezes, manter o que é nosso e não ceder será preciso, para que não nos afundemos em relacionamentos tóxicos, abusivos, castradores.
E mais, quem quiser viver sem ser julgado por ninguém terá que morar em uma caverna, numa ilha isolada, ou se fechar em casa para sempre, porque sempre haverá alguém apontando dedos, censurando, maldizendo, criticando o que fizermos ou dissermos. Muitas pessoas, em vez de viver a própria vida, vivem a vida dos outros, acompanhando as pessoas feito novela, de tanto que devem se achar pequenas e desinteressantes.
Está com vontade de comer um lanche às nove horas da manhã? Coma. Quer usar aquela roupa fora de moda? Use. Quer enviar mensagem de bom dia com desenho de beija-flor? Envia. Quer ouvir música brega? Quer dançar sozinho na pista? Quer raspar o cabelo? Faça o que tiver vontade. Viva o que estiver dentro de você, de forma autêntica, limpa e tranquila. Ninguém tem nada que se intrometer naquilo que não lhe diz respeito.
Um dos maiores favores que faremos a nós mesmos é abolir de nossa vida a frase: “mas o que vão pensar?” Que pensem, que te rotulem, que te achem ridículo, sem noção, que se afastem de você: o importante é ser feliz. E ser feliz não combina com frustração, de jeito nenhum.