Texto de José Carlos Rodrigues
Estou perdido esta noite, pairado sobre obscuridades insensíveis, presumindo que talvez veja uma luz branca na esquina daquela rua. Estou perdido esta noite, levando-me a mim próprio sobre as suaves brisas acompanhantes da força do mar. Caminho sobre o nada, suspiro uma intenção de lógica improvisada, submetendo-me à sensatez desta linda avenida, iluminada por silhuetas transparentes que descem sobre o meu ser fixado nestes buracos no jardim.
Em que hei-de acreditar afinal? Na ocorrência do pensamento destas pessoas que por mim passam? São propriamente gestos de conquista alucinados em léguas iluminadas ou legiões endrominadas. Um simples rebento de uma flor esta noite, simbolizada por outras tantas, deixa meus olhos afogados em lágrimas de alegria com uma enorme esperança que por detrás de mim permanece o amor da minha vida.
Ilusão numa noite, ilusão de uma vida, realidade prometida por severos amantes de lógicas amorosas, deitam abaixo a minha dignidade prometida por conselheiros poderosos.
Porque olham para mim com ar de gratidão se eu não lutei para tal? Porque sou merecedor deste livre amor se nem sequer nesta noite me declarei à tua santidade divinal? Tento mesmo assim ser feliz com uma noite iluminada, esta noite de ilusão é a maior sensação de uma esperança alcançada.
Texto de José Carlos Rodrigues, escritor português e colaborador da Revista Pazes, autor do Livro O Silêncio da Alma.