Na última terça-feira (3), um idoso de 69 anos recebeu voz de prisão por crime de racismo dentro da Delegacia de Polícia Civil da 2ª Regional, em Rio Branco (Acre).
De acordo com o boletim de ocorrência lavrado na DP, o homem não “aceitou” ser atendido pelo delegado Samuel Mendes, que é negro. O idoso teria afirmado que “queria ser atendido por um delegado branco”.
Samuel é delegado há mais de uma década e atua como titular da 2ª Regional, que fica no Conjunto Habitacional Cidade do Povo. Dentro do setor de Segurança Pública, ele atua há 19 anos, entre serviços prestados nas polícias Militar e Civil do estado do Acre.
Naquela manhã, o idoso se dirigiu até a unidade para registrar uma ocorrência contra uma vizinha. Após passar pela triagem da polícia civil, ele foi informado de que um delegado iria ouvi-lo sobre a situação.
Pouco depois, Samuel foi informado pela servidora sobre o atendimento, foi até o homem e se apresentou como o delegado.
“Pedi para ele me acompanhar e, quando foi para entrar no gabinete, ele parou, olhou para dentro, e perguntou: ‘mas, cadê o delegado?’. Eu falei que era o delegado e iria prestar o atendimento. Ele disse: ‘não, quero um delegado branco’. Falei que eu era o delegado que fazia o atendimento ali, mas ele repetiu: ‘não, quero ser atendido por um delegado branco’. Não entrou no gabinete e ficou parado na porta”, contou Mendes ao portal G1.
Na hora, o delegado chamou um colega de profissão que também atende na unidade, levou o idoso até a sala dele e disse que ele queria ser atendido por um delegado branco. A partir aí, o homem tentou reverter a história.
“Ele disse que não era bem assim, que não quis me destratar e nem desconsiderar ninguém, que é até evangélico e não destrata nenhuma pessoa. Eu sai por alguns minutos da sala e depois fizemos todos os procedimentos”, afirmou Samuel.
Em choque com a situação, o delegado ainda perguntou se o idoso tinha ido à delegacia alguma outra vez por acreditar que ele tinha alguma referência de outro delegado ou se queria ser atendido por um profissional específico.
“Ele falou que nunca foi na delegacia, nem nada nesse sentido. Eu achava que ele tinha visto algum outro delegado, tinha sido atendido por ele. Mas, sou titular há quase um ano e os atendimentos iniciais são sempre comigo”, destacou.
Minutos depois, Samuel voltou até a sala onde o idoso estava e deu voz de prisão por crime de racismo. Mais uma vez, o homem tentou fugir da situação e alegou que não lembrava o que tinha falado.
“Perguntaram o que ele tinha falado e disse que não lembrava mais. Foi feita a condução dele para a Defla [Delegacia de Flagrantes] e ele foi atuado na lei de racismo, artigo 20”, complementou o agente.
À imprensa local, Samuel relatou que em todos esses anos servindo à Segurança Pública, ele jamais havia passado por uma situação como aquela.
“É algo que pega de surpresa, ainda mais nesses tempos atuais que as pessoas cada vez mais estão informadas. A tendência é diminuir e de forma tão implícita. Fiquei sem ação, depois fui alinhar as ideias”, lamentou.
O idoso passou por uma audiência de custódia na última quarta-feira (4). Como seu nome não foi divulgado, não foi possível fazer contato com a Defesa.
Fonte: Carta
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