O mais recente filme melodrama de Sebastián Lelio, “Desobediência”, mergulha em um enredo comovente sobre o poder da escolha em meio ao judaísmo ortodoxo.
Embora se ambientando nessa religião específica, a história ressoa em qualquer doutrina, explorando crenças que delineiam destinos sem margem para mudanças abruptas. Ao longo da última década, Lelio tem se dedicado a retratar figuras femininas complexas, oscilando entre delicadeza e intensidade, enquanto reivindicam seu espaço.
Em obras como “Gloria” (2013) e “Uma Mulher Fantástica” (2017), o diretor mergulha nas vidas de personagens que desafiam convenções, expondo a estabilidade tediosa de suas existências e confrontando circunstâncias que levam a revelações perigosas. Em “O Milagre” (2022), baseado no romance de Emma Donoghue, Lelio mais uma vez tece uma narrativa convincente sobre uma farsa, explorando os limites impostos pela fé à felicidade e ao livre arbítrio humano, um tema central também em “Desobediência”.
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A personagem central, Ronit Krushka, assemelha-se à Lib Wright do século XIX. Se antes Lib investigava um rigoroso jejum na Irlanda, Ronit retorna à casa paterna após décadas de distância, desvendando um escândalo ligado ao uso distorcido da religião e à deformidade da fé.
A trama se inicia com um sermão do rabino Rav Krushka, interpretado por Anton Lesser, que explora a escolha humana em confronto com Deus. No decorrer do filme, após um incidente fatídico durante um culto na sinagoga, a história mergulha mais profundamente na vida de Ronit, uma fotógrafa de renome que interrompe sua vida em Nova York para comparecer ao funeral do pai em Londres.
A jornada de Ronit marca um ponto crucial em “Desobediência”. Rachel Weisz interpreta a protagonista com nuances, revelando gradativamente os eventos que levaram à ruptura entre ela e o pai, enquanto sua homossexualidade é trazida à tona ao descobrir o casamento de Dovid Kuperman, filho adotivo de Rav, com Esti.
O diretor habilmente explora os intricados laços entre Ronit e Esti, sugerindo manipulações por parte de Dovid que levantam dúvidas sobre sua verdadeira intenção de ser o sucessor do rabino. Enquanto a trama se desenrola, os personagens principais se revezam entre a audiência como potenciais vilões, gerando sentimentos contraditórios em relação a suas ações e motivações.
À semelhança de suas obras anteriores, Lelio não oferece soluções fáceis em “Desobediência”. O filme culmina de maneira inesperada, contrastando com o ritmo orgânico da narrativa até então. Contudo, é inegável que essa obra se destaca entre os melhores filmes de Lelio, por sua capacidade de tocar em feridas profundas e provocar reflexões intensas sobre escolhas e consequências.
Por mais que cada obra de Lelio se destaque por sua singularidade, “Desobediência” é um mergulho complexo e comovente nas vicissitudes da vida, alimentado pela atuação excepcional de Rachel Weisz e pela trama intricada de escolhas e paixões proibidas.
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Fonte: Papo de Cinema
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