Por Erick Morais
A vida nesta terra é dura. Somos expostos ao sofrimento, a dor, a feridas e a angústias. Alguns sofrem mais, outro menos, mas todos sofrem.
Como lidar com algo que nos machucou e nos fez sofrer? Qual a importância de ter alguém disposto a nos ajudar? Alguém que se preocupe de fato conosco e queira nos entender? Alguém disposto a decifrar um Gênio Indomável?
Essas questões são apresentadas no filme “Good Will Hunting” (Gênio Indomável) escrito pelos amigos Matt Damon e Ben Affleck, com direção de Gus Van Sant. Na trama, Will (Damon) é um garoto problemático, que facilmente se envolve em confusão e com problemas comportamentais.
Além disso, Will tem dificuldade em criar vínculos, na verdade não os cria. Antes que possa estar ligado a alguém, desfaz a relação, a fim de evitar frustrar-se com o abandono e, consequentemente, com o fim da relação.
Will tem esse comportamento em função de traumas ocorridos na infância, quando sofrera maus tratos e fora abandonado por aqueles que deveriam tratá-lo com carinho e ter estado ao seu lado. No entanto, apesar da infância traumática e conturbada, além dos problemas de comportamento, Will é um gênio e, assim, acaba chamando a atenção do renomado professor Gerald Lambeau (StellanSkarsgård) que passa a acompanhá-lo, após o jovem se envolver em mais uma confusão. Nesse acompanhamento, Will deverá ter aulas de matemática, fazer terapia e arrumar um emprego no campo matemático, obviamente.
A partir de então se inicia o cerne da história, a saber, a análise psicológica de Will, um jovem extremamente genioso, mas genial, sob duas perspectivas diferentes. A primeira é a do professor Lambeau que vê Will apenas como um gênio da matemática, o qual deve aproveitar esse talento para trabalhar em uma grande empresa e se tornar conhecido pela sua genialidade.
Lambeau não consegue enxergar o jovem como uma pessoa totalmente frágil que precisa de ajuda. Ele enxerga tão somente um gênio da matemática e para ele não há outra possibilidade para Will a não ser torna-se esse gênio.
Com uma perspectiva totalmente diferente aparece Sean (Robin Williams), um terapeuta que está acompanhando Will. Sean enxerga o jovem como um humano, assim como outro qualquer. Reconhece a sua genialidade, mas também vê as suas fraquezas. Aliás, percebe que por trás de um sujeito autossuficiente e arrogante, esconde-se um garoto frágil e com medo, que precisa desesperadamente de ajuda. E ele é essa ajuda.
Sean é sensível para perceber que o gênio forte do garoto é uma autodefesa, já que quando criança Will sofrera muito e isso causou traumas psicológicos, como a sua violência e, acima de tudo, a sua incapacidade de se ligar a alguém, pois na sua cabeça o abandono é algo iminente, visto que todos aqueles que deveriam cuidar dele na infância o abandonaram.
Ao assistirmos ao filme podemos achar que qualquer um seria capaz de perceber a complexidade da vida de Will, mas, a bem da verdade, isso não é tão simples, uma vez que diante da sua genialidade, poderíamos como fez o professor Lambeau, desconsiderar o que ele sofrera. Contudo, Sean tinha a sensibilidade necessária para ir além do gênio, duplamente, e chegar ao homem.
Através da empatia, Sean consegue se colocar no lugar de Will e busca sentir a sua dor para que possa compreender o que leva o garoto a agir daquele modo tão agressivo e defensivo. Sean não se esconde atrás de uma capa, mostra quem é de fato, o que gosta, suas feridas, suas dores, suas realizações e com isso, pouco a pouco vai conseguindo ganhar a confiança do jovem, bem como, conectar-se a ele.
Essa conexão só é possível por Sean se abrir com Will, por não forçar a barra querendo ser simpático o tempo todo ou ficar puxando o seu saco pelo fato do jovem ter um intelecto fantástico.
Tampouco, levou fórmulas prontas, teve paciência para esperar o momento certo em que Will se sentisse confortável para falar, ou seja, o viu como um indivíduo autônomo e único que precisava ser olhado dessa forma e não somente com um futuro Nobel da matemática.
Infelizmente, tanto na vida quanto no filme, faltam pessoas capazes de se desprender de si para ouvir e olhar o outro, pessoas corajosas para ficarem vulneráveis com as outras, permitindo ser tocadas, confiando que o outro corresponderá, ainda que não corresponda. Talvez por isso o personagem de Williams seja tão cativante e emocionante, pois ao nos depararmos com aquele indivíduo, percebemos que somos e/ou estamos muito mais parecidos com o professor Lambeau que com ele.
A relação desenvolvida entre Will e Sean demonstra o quão importante é ter uma relação de verdade, com alguém que se preocupe conosco, que esteja disposto a nos ouvir, nos entender e nos ajudar. É demonstrada também a importância dos sentimentos e de não ser sempre tão racional, de se deixar levar pelo que faz o coração terno, pois só assim são construídas experiências de verdade, que podem ser guardadas com carinho na memória.
Como Sean vê Will como um ser humano, também não pressiona o garoto para que ele aceite os inúmeros empregos em maravilhosas empresas que lhes são oferecidos. Sean não quer determinar o que o Will deve ser, ele não tem esse poder, nem quer ter. Ele quer conhecer o garoto e ajudá-lo a descobrir o que de fato quer fazer. Reconhece o valor por Will não querer ser um babaca, mas não desconsidera a sua genialidade e a sua capacidade de poder fazer coisas grandiosas, no entanto, quer que o próprio Will decida o que quer fazer.
Sean sabe o real valor das coisas e quer passar para Will. E passa. Um coração aberto a Will para que ele se sinta protegido; uma mão que quer ajudá-lo a sair do quarto escuro onde se esconde; e ouvidos para que quando fale, saiba que não está sozinho e que por mais dores que sinta e feridas que sofrera, pode confiar nele e nos outros, mais que isso, precisa confiar se quiser conhecer alguém de verdade e ter alguma conexão com alguém além de si mesmo.
A beleza do filme não é transmitida por uma grande fotografia ou um belo cenário, e sim pela forma como ele deixa claro que não há nada que substitua sentimentos verdadeiros sendo trocados entre duas pessoas, conectadas, em que uma interfere na vida da outra. Não há ninguém perfeito e não há problema, pois a maior beleza de uma relação é a vontade de duas pessoas que querem ser perfeitas uma para outra.
Para isso é preciso estar disposto a ter trabalho, a ouvir, a se colocar no lugar do outro e ficar vulnerável, assim como Sean fez com Will, ajudando-o a fazer algo com o que os outros fizeram dele, como disse Sartre. Se não estivermos dispostos a fazer isso, deixo com que Sean, através do saudoso e irretocável Williams, vos diga que isso é uma superfilosofia, em que você poderá viver a vida inteira sem conhecer ninguém profundamente.
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