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’Fui carvoeira, quebradeira de coco, passei fome, mas venci’, relata médica

Areli Gonçalves Guimarães nasceu no dia 25 de dezembro de 1957, em um vilarejo muito pobre situado em Vitorino Freire, no Maranhão. Areli foi um dos sete filhos sobreviventes dentre os treze filhos que nasceram de Estevam Gonçalves dos Santos e Francisca Guimarães Santos. As outras seis crianças encontraram o seu fim em meio à fome e a miséria em que a família vivia.

Foto: Reprodução/Facebook

Mesmo diante de todas as adversidades, Areli dedicou-se aos estudos e formou-se primeiramente em enfermagem e depois em medicina. Em belíssima reportagem assinada por Beatriz Bonet, a médica falou de sua trajetória e carreira ao site Amazônia Press.

Ainda criança, a médica precisou afastar-se da escola ao contrair malária. Não tendo tratamento adequado, quase encorpou a infeliz estatística daquele tempo, quando a taxa de mortalidade infantil era alarmante. A cada mil crianças, 121 não chegavam à idade adulta, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na infância, a médica trabalhou em uma carvoaria. Sobre esse tempo, afirma: “Muitas vezes, eu ia sem tomar banho, com o cheiro de fumaça e suor, por ter que optar entre tomar banho ou conseguir chegar a tempo à aula”.

A principal fonte da renda familiar provinha do babaçu. Quebravam o coco de onde se extrai o óleo das amêndoas.

Ela se encantou pela medicina aos 17 anos, quando fez um estágio para a vaga de enfermeira em dado estabelecimento, contudo, tratava-se de um golpe: “Nós trabalhávamos vários meses, sem receber, e quando íamos cobrar, éramos ‘demitidas’”.

A médica só concluiu o ensino médio aos 21 anos de idade: “Eu me lembro que estudei numa escola de freiras, com bolsa, não tinha como pagar. A farda era antiga e bem maior que eu. Me chamavam de vovó”.

Em 1978, tendo se mudado para Manaus na tentativa de sobreviver e dar andamento aos estudos, conseguiu um emprego de empregada doméstica e babá durante o dia, estudante durante a noite. Em seguida, o mesmo patrão a “promoveu” a balconista de sua drogaria.

Em 1979, passou no vestibular para medicina, mas, como não havia concluído o ensino médio, não pode se matricular. No ano seguinte, sentiu-se tão pressionada que não conseguiu repetir o feito do ano anterior, conseguindo uma vaga, como remanescente, no curso de enfermagem.

Areli Guimarães é médica ginecologista e obstetra. Foto: Reprodução/Facebook

Ela, contudo, não desistiu do seu sonho. Formada em enfermagem, passou no vestibular para medicina em 1986: “Eu estava grávida, no último mês, quando passei na prova. Cursar esse sonho foi muito difícil, tendo que trabalhar, cuidar dos filhos”, comenta Areli, cujo segundo filho nasceu dois anos depois.

Os desafios foram superados, o sonho de se tornar médica foi realizado em 1992 e já são 27 anos de profissão. A médica especializou-se em ginecologia e obstetrícia e atua em maternidades de Manaus.

“Fui carvoeira, quebradeira de coco, passei fome, fui doméstica, babá, balconista. Lutei contra todas as adversidades e venci, segurando nas mãos de Deus, que sempre me deu vitória”, arremata, resiliente, Areli Guimarães.

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