O que faz com que o pintor pinte, o músico componha, o jardineiro plante, o artista crie, o poeta escreva, e etc?
A razão pela qual fazemos o que fazemos é muito simples, aprendi com Miguel de Unamuno em seu maravilhoso livro “Do Sentimento Trágico da Vida”, a causa é esta: temos fome de eternidade.
Por essa mesma razão estou escrevendo este texto, ou seja, sou faminto, e cada pensamento transformado em palavras, vertidas e registradas neste texto, acrescentam-se-me anos. Escrever é um exercício de imortalidade. Enquanto escrevo, vou angariando eternidade.
Os pensamentos são pássaros que pousam na cabeça. Alguns bonitos, outros feios. Alimentando-os, eles podem voltar (basta escolhermos qual queremos alimentar). Eles são livres, pousam por um breve instante e logo batem as asas e alçam vôo.
Os fotógrafos, famintos pela eternidade, fotografam pássaros. Eternizando-os em suas fotografias. O pássaro pode nunca mais voltar, porém, na fotografia, estará eternizado.
Assim também fazem os escritores. Textos são fotografias de seus “pensarinhos” (fusão entre pensamentos e passarinhos). A ideia pousa sutilmente. É preciso atenção para observá-los, e cautela para fotografá-los/escrevê-los, caso contrário eles voam espantados e nunca mais voltam.
Portanto, é possível sentir o que já foi sentido através das palavras escritas. Se escrevo: árvore. Sinto a sombra, escuto os estalos dos galhos secos… Se escrevo: água. Sinto o frescor, ouço o som do mar… Se escrevo: crepúsculo. Vejo a beleza, sinto saudade, etc.
Há outra coisa em mim, que acredito ser pela razão da minha fome de eternidade: sou demasiadamente curioso. Meus olhos são famintos. Todos os meus sentidos o são. Quero saber das coisas. Quero conhecer o mundo. Mas a vida é breve como o orvalho pela manhã. Nisto a literatura me ajuda. Por essa razão amo os livros: vou a lugares que nunca pensei ir, penso pensamentos que nunca imaginei pensar. Os livros me dão asas.
Assim caminha a humanidade. Faminta. Talvez seja precisamente aí que reside a nossa esperança, em quando pintamos, compomos, plantamos, criamos e escrevemos, o que queremos é tão somente isto: eternizar…