As árvores florescem pois é preciso por a beleza para fora. Senão adoecem e o novo ciclo de suas vidas não se inicia.
As vezes me sinto assim. Como não sei pintar ou tocar, preciso escrever. Para o corpo não adoecer. Argila que não é moldada endurece e racha. Os sentimentos que não são moldados e espremidos na tentativa de sair também racham e secam. Viram tijolos duros dentro de nós. Encontro nas palavras a minha forma de moldá-los para que meu mundo fique mais bonito.
Está chegando a primavera. Época de eclosão de vida e de sabedoria. Tempo de festa para os sentidos.
Desejo que possamos ver sempre sua beleza. Se um dia não pudermos vê-la, que seja sentida. Que possamos também ouvir suas melodias e sentir seus cheiros. Mas se algum dia formos impedidos, que possamos degustá-la de outra forma. Sempre há alguma forma de ter prazer, nós é que não os encontramos com facilidade.
A beleza que explode dos nossos poros, no cio das árvores, na sensibilidade dos artistas e nas palavras dos poetas invada o mundo para estar de volta em nós! Essa é nossa grande comunhão com a vida. É assim que nos tornamos todos irmãos. Vale a pena viver enquanto pudermos sentir a beleza que há na vida. Genuína, despudorada e desprovida de vaidades. A sensibilidade que a vida nos oferece em conta gotas o tempo todo, é o que faz valer a pena nossa existência. Somos invadidos o tempo todo por pequenas doses de vida, beleza e poesia. Infelizmente, gastamos nosso tempo olhando para a dureza e a rispidez do inverno. A vida não é só feita de desafios, tempestades e tempos frios. A primavera está chegando para nos lembrar da beleza contida na poesia da vida.
Já antecipadamente, agradeço ao ciclo natural da vida que mostra que sempre há flores depois do frio. Sempre há arco-íris depois das chuvas.
E se meu peito dói hoje, amanhã hei de me acalentar. Pois o inverno está acabando e a primavera está chegando…