No universo das narrativas que transcendem a trivialidade da juventude, John Cameron Mitchell alcança a proeza de explorar a essência da solidão na trama do filme “Como Falar com Garotas em Festas”, baseada no clássico de Neil Gaiman, cuja obra literária vendeu expressivos 10 milhões de exemplares.
Ao driblar a tentação do clichê, o diretor não se contenta com a excentricidade terrena, inserindo um encontro interplanetário que destaca a tragédia da solidão, especialmente nos anos verdes em que a indiferença se apresenta como a face predominante.
Consciente de que nem todos resistem a traumas prosaicos repletos de intricados riscos, Mitchell, já conhecido por obras como “Hedwig and the Angry Inch” (1998), traz à tela uma trama sólida e dramática. O filme, oriundo do conto de Gaiman, fecha um ciclo inspirado na caótica harmonia do musical que o antecedeu, evidenciando a marcante influência de Mitchell na obra do autor britânico.
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O diretor e a co-roteirista Philippa Goslett elevam um enredo aparentemente simplório a uma peça rica em referências históricas que entrelaçam política, comportamento e cultura, com ênfase na contracultura. O protagonista, Enn, aspirante a porta-voz do britpunk, habita um universo paralelo, e o filme se desenrola em 1978, época em que a coroação da rainha atinge seu 25º aniversário, mas a atmosfera de festa não se estende aos personagens.
Mitchell preserva a natureza iconoclástica da narrativa de Gaiman, proporcionando a Alex Sharp a oportunidade de incorporar de maneira impactante a ira sistêmica que permeia a trama. A presença de Nicole Kidman como Boadicea, soberana do underground londrino, acrescenta camadas à narrativa, marcando a estreia de uma personagem igualmente furiosa e encabulada, em sintonia com Enn.
O antirromance entre Enn e Zan é elaborado pelo diretor, destacando as incongruências que, paradoxalmente, os aproximam. Elle Fanning domina a inconstância de sua personagem, conduzindo a trama por momentos de paixão recém-descoberta e surpreendentes reviravoltas, como indicado por uma cena que, à primeira vista, parece ser o ponto alto do romance, mas que revela um desdobramento escatológico, antecipando o desfecho imprevisível do caso.
Quatorze anos após os eventos retratados, em 1992, o desfecho do filme é marcado por Enn (ou Gaiman?) autografando seu livro em um café, proporcionando um encerramento emotivo à moda inglesa. Com sua presença na Netflix, a adaptação cinematográfica promete transportar os espectadores para uma jornada única, repleta de elementos que transcendem as convenções do coming-of-age e exploram as complexidades da condição humana.
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Fonte: Cine Pop