Texto de Marcel Camargo
Ninguém, em sã consciência, gosta de sofrer, de chorar, de amargar decepções, porém, há quem se prenda ao que faz mal, ao que suga, ao que diminui, por muito tempo. O normal seria que valorizássemos tudo o que nos faz sorrir, no entanto, na prática, muitas vezes nos aproximamos de algo ou de alguém que nada mais faz do que nos tornar infelizes.
Talvez por ser uma tendência humana querer o que é mais difícil, as pessoas acabam confundindo “lutar dignamente por algo que vale a pena” com “lutar feito trouxa por algo que nunca trará coisas boas”. Na ânsia de querer manter por perto o que pensamos ser nosso, perdemos a noção exata de nosso próprio valor, em favorecimento de quem não nos oferece nada de bom.
Parece que não adianta tentar explicar para algumas pessoas o quanto elas sofrem à toa por conta de pessoas dispensáveis e de coisas supérfluas, como se, ali, envoltas no calor de suas tempestades, nada mais fizesse sentido fora daquela dor a que infelizmente se acostumaram e tomaram como parte integrante de suas vidas. Porque a gente se apega facilmente, inclusive ao que machuca.
Anos de sofrimento não são capazes de clarear os pensamentos de muitos que acham que não conseguirão sobreviver longe de quem nem junto está, longe do emprego que nem crescimento traz, longe de lugares onde sua presença não faz falta alguma. O medo rouba sonhos, rouba o raciocínio, rouba vida. Medo do novo, do que não é certo, do que foge ao que posto está.
Há um mundo tão imprevisível à nossa volta, que tentamos manter certa segurança por perto, nas amizades, nos amores. Infelizmente, nesse percurso, muitos de nós acabamos segurando, não raro forçosamente, justamente o que não faria falta alguma e, inclusive, o que nos impede de seguir em frente em busca de nossa felicidade. Por isso é que há pouco reconhecimento e gratidão em relação a quem realmente merece. Por isso é que há tanta tristeza nesse mundo.
A partir do momento em que cada um refletir sobre o tanto que possui a oferecer, o tanto que tem de humano dentro de si, jamais haverá tanta gente se aproveitando de quem não merece. Quando sabemos o nosso valor, ninguém consegue nos ludibriar, ninguém entra no nosso coração sem oferecer reciprocidade. Falta amor no mundo, mas falta, principalmente, amor-próprio. Só se amando é que se tem certeza do que significa felicidade genuína, bem longe de quem só sabe anular sorrisos. Ame, mas ame-se também.
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