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É tão raro quem conversa; as pessoas só querem falar

Por Marcel Camargo
Em muitos momentos, precisaremos de alguém que nos ouça, que preste atenção em nossos sentimentos, que divida a dor que nos assola, apenas ali do lado, olhando-nos os olhos e acolhendo nossa alma quebrada.

Se prestarmos atenção, perceberemos que o costume de aguardar a vez para falar está desaparecendo entre muitas pessoas. Todo mundo quer falar, extravasar, opinar, mas poucos estão dispostos a ouvir e realmente escutar o que o outro tem a dizer. Não importa o quanto precisemos de alguém que nos ouça, raramente encontraremos quem consiga parar de pensar em si mesmo, para nos dispensar um mínimo de atenção.

E esse comportamento, infelizmente, acaba atrapalhando também a leitura de textos escritos. Se o que importa é tão somente a própria opinião, como conseguir ler um ponto de vista diferente e pensar sobre aquilo? Geralmente, as pessoas leem só o superficial, sem se aprofundar no que está subentendido, porque querem estar certas, querem ser as donas da razão, portanto, nada do que as contradiz é levado em conta.

Em muitos momentos, precisaremos de alguém que nos ouça, que preste atenção em nossos sentimentos, que divida a dor que nos assola, apenas ali do lado, olhando-nos os olhos e acolhendo nossa alma quebrada. Não será preciso falar nada, apenas escutar, entender, abraçar e ficar junto de fato. Alguém que não corte nossa fala, que não diga que também sofre, que não abra concorrência com a nossa dor – muitas pessoas sempre acham que sofrem mais do que qualquer um.

É como se quase ninguém mais conseguisse conversar, ou seja, trocar ideias, opiniões e pontos de vista de forma compartilhada, pois muita gente quer somente falar, impondo o que acha ser o certo e ponto final. Assim, tornam-se incapazes de se colocar no lugar de alguém e de refletir sobre a própria vida. Gente assim é incapaz de mudar, de perceber-se errada, de melhorar. Não conversam com pessoas, não interagem com textos, nem dialogam com o mundo, pois só o que existe é seu próprio mundinho.

Devemos, portanto, valorizar as pessoas com quem conseguimos conversar de fato, com quem chegamos a trocar ideias de forma saudável, quem nos escuta e nos acolhe, quando mais precisamos. É preciso que nos demoremos junto às pessoas que nos devolvem sentimento, porque, caso acumulemos pesos demais dentro de nós, dificilmente teremos a chance de seguir em busca de nossa felicidade. E isso ninguém merece.

Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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