Uma vez li numa dessas postagens de perfis de maternidade feminista: “quantas vezes você ficou desconfortável para deixar os outros confortáveis?” Curti uma vez, mas, se fosse permitido, curtiria mil vezes.
Eu me identifiquei tanto com aquilo que me levou a reflexões sobre como a maternidade tem ajudado a me livrar dessa característica que sempre me incomodou: para não “magoar” os outros, sempre disse sim, topo tudo.
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Mas a maternidade me obrigou a mudar – para melhor. Mas não foi mérito meu. Queria dizer que foi a maturidade que me levou a avançar nesse quesito. Evoluí porque a realidade pesada do dia a dia com os gêmeos, conciliando trabalho e ainda saindo da pandemia, me obrigou a buscar um reposicionamento de relacionamentos.
Desde que os meninos nasceram – na verdade, ainda na gravidez – vi que muita gente para quem eu sempre dizia sim para tudo decidiu que era hora do “no show” [não aparecer] quando eu mais precisei. O “se precisar conta comigo” foi levado a sério por mim, quando falavam essa frase no momento sensível que foi ficar grávida de gêmeos numa pandemia, em uma cidade estranha, sem família e amigos. Só que descobri que muitos estavam falando da boca para fora.
Obviamente que a decisão de ser pais é, antes de tudo, dos pais. Ninguém é obrigado a participar se não quiser. Mas, quando se tem familiares e amigos, imagina-se que aquela escolha individual irá impactar a todos com quem você mantém uma relação – e para o bem. É algo a se comemorar, é amor, é felicidade, agrega, une, traz esperança. E, a partir disso, você fantasia que haverá uma onda de amor que vai levar todos a participar, a estar (mesmo que virtualmente), dividir. Ou seja: dizer sim. Mil vezes sim para a mãe de dois que está vulnerável.
Mas, diferentemente do que eu imaginava, pessoas que eram importantes deram no show em momentos em que eu mais precisei. E, como efeito colateral involuntário, acabaram me dando uma lição: mostraram, com esses “nãos” sem constrangimento, que eu fiquei desconfortável por anos, décadas até, porque eu quis.
Frustrante? No começo, sim. Mas, com o passar dos últimos dois anos, hoje sou só gratidão. Primeiro, porque tive boas surpresas em relações das quais eu não esperava tanto. Que sorte do João e do Pedro por tanta família e amigos maravilhosos dos pais!
Mas o principal saldo de tudo foi que essas reflexões me levaram a fazer um verdadeiro detox de relações e a aderir a um novo filtro sobre o que quero e não quero na convivência dos meus filhos. E o melhor: não ter de manter relações pela metade é maravilhoso. Dizer “não” para pessoas que me deixam desconfortáveis é libertador.
E, também por isso, digo que meus filhos, apesar de só terem 1 ano, já me ensinam tanto. O principal: a resetar, deletar ou editar relações. Hoje, posso dizer com tranquilidade que não existe a menor possibilidade de eu “tocar com a barriga” uma relação – seja ela qual for. Como diz uma amiga (que é mãe, claro) sobre rede de apoio, a regra é clara: “ou soma ou some”.
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Fonte: Crescer
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