Um dos acontecimentos da vida mais difícil de aceitar, compreender e, muitas vezes, superar é a morte de um ente querido. O luto, segundo alguns, possui três fases: Negação – Aceitação – Superação.
Negação acontece quando não queremos acreditar que essa pessoa partiu. Aceitação é quando aceitamos a partida e superação quando acolhemos a nossa realidade e a vida segue.
Quanto tempo pode permanecer em casa fase, depende muito de cada pessoa, dos laços afetivos, da visão que se tem da pós-morte.
Tem gente que mantém os pertences, o quarto intacto da pessoa que já partiu, como se isto a mantivesse mais presente. Lembro-me quando minha mãe faleceu, há treze anos. Ela morava com um dos meus irmãos, o Bepe, e sua esposa Iria. Eu pedi para eles que a partir daquele momento a casa não mais fosse da mãe, mas deles. Que de agora em diante eu queria visitar a casa deles. Portanto, que modificasse como eles quisessem. Que as irmãs e cunhadas pegassem algo que desejasse da mãe e o restante fosse doado. Assim fizeram e tudo ficou mais fácil para superar.
Muitas vezes queremos manter, de qualquer forma, essa pessoa perto de nós. Ou quando vamos todos os dias no túmulo.
Jesus tem uma frase que considero muito forte. Ele foi comunicado da morte do seu amigo Lázaro. Foi até lá pra consolar as duas irmãs. Foi ver onde haviam sepultado o amigo; chorou diante do túmulo. Então, pediu que o retirasse do túmulo e em seguida pediu para as irmãs: “deixai-o ir”. Os escritos de João são todos carregados de muito simbolismo. Não é aqui que vou falar disso. Mas Jesus apenas quer mostrar a todos que um discípulo dele não permanece morto no túmulo, mas que ele entra na vida, como dizia Santa Terezinha: “Não morro, entro na vida”.
A morte tem vários modos de ser compreendida. Eu prefiro não mais falar em morte, pois ela não existe. Nós somos seres criados para continuar vivos, sempre num processo de evolução. Fazemos parte do Universo, que possui a Lei Cósmica da Evolução. Tudo é evolução. Tanto que se nós não evoluímos nos sonhos, projetos de vida, estamos morrendo, contrariando essa lei. Portanto, quem parte daqui passa por um processo de evolução. Vai para uma nova dimensão, superior a essa.
Cada um de nós caminha para esse processo de evolução. Quem somos nós para impedir que, mesmo nossos entes queridos, façam esse processo? Não me importa como queiram chamar essa pós-morte. Podem chamar de paraíso, céu, nova dimensão, etc. Acredito que nesse outro lugar estamos vivendo algo novo, melhor, sem as limitações e as dificuldades do corpo. O que segue podemos chamar de alma, espírito, consciência, o eu profundo…
Uma metáfora muito boa, para esse momento de dor, foi contada por um rabino de São Paulo, Hernry Sobel, quando da morte do governador Mário Covas. Dizia ele: A morte pode ser comparada como uma viagem de barco que precisa atravessar o oceano. A pessoa embarca e os que ficam choram, não querem que ela vá. Mas precisa partir. O barco vai se afastando mais e mais do ponto de partida e vai se aproximando da outra margem. Lá existem muitos esperando por ela. Olham no horizonte e, de repente, avistam um pequeno barco que se aproxima e começam a se alegrar pelo retorno. Consegue imaginar quem está lá para nos acolher? Aqueles que nos amam e junto deles toda a corte celeste, mais Jesus, a Mãe dele, e por fim, o Pai eterno. Que festa pela nossa chegada!
Os que partem não se afastaram de nós. Estão em profunda comunhão conosco. Tenho certeza que meu pai, minha mãe, minha irmã, participam da minha vida. Eles apenas vivem em outra dimensão, onde um dia também estarei.
Portanto, eu chamaria de minha irmã morte, como dizia São Francisco de Assis. Não me preocupo com esse dia, não me causa medo e caminho de cabeça erguida para fazer essa travessia, como parte da minha evolução existencial.
Havia uma jovem mulher que tinha uma doença terminal e lhe foi previsto apenas mais três meses de vida. Dessa forma ela começou a colocar as coisas “em ordem”. Ligou para um amigo e pediu que viesse à sua casa. Queria passar para ele seus últimos desejos, de como gostaria seu enterro etc. O amigo já se preparava para sair, ela disse:
– Tem mais uma coisa!
– Do que se trata?
– Isso é muito importante. Eu quero ser enterrada com um garfo em minha mão direita. O amigo ficou olhando sem entender.
– Isso é uma surpresa para você? Perguntou a jovem.
– Bem, para ser honesto, estou mesmo confuso.
– Na minha infância quando visitava minha avó, após o jantar, os pratos começavam a ser recolhidos. Minha avó inclinava-se em minha direção e cochichava em meu ouvido: “Mantenha o seu garfo”. Era minha parte favorita porque eu sabia que algo melhor estava por vir… Como um bolo de chocolate ou uma torta de maçã. Assim, eu apenas quero que as pessoas me vejam lá no caixão com um garfo em minha mão e então perguntarão: “para que o garfo?” e você lhes dirá:
– Ela mantém o seu garfo porque o melhor está por vir.
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