Por Pamela Camocardi
Tanta gente bacana disposta a entrar na nossa vida para nos fazer feliz e a gente preenchendo espaços com gente vazia. Amor não é isso. Amor é entrega. É oito ou oitenta. É tudo ou nada!
Relacionamentos não são fáceis. Mantê-los com a paixão em alta, então, parece tarefa para gigantes, pois além de envolverem pessoas diferentes, a rotina torna tudo mais calmo e comum. Mas, acredite, é possível fazer da rotina uma aliada do romance e aumentar a cumplicidade do casal no convívio diário.
O amor permite que convivamos diariamente com uma pessoa educada diferente dos nossos costumes. Aprendemos a entender (e a respeitar) todas as diferenças. Desde sentarmos à mesa, à forma de escovarmos os dentes. Começamos a entender que o amor é feito de detalhes e que, mesmo que não dê para fazer um jantar à luz de velas todos os dias, nem mandar rosas todas as noites, dá para ser gentil nos detalhes. E isso é o que importa!
A rotina, diferente do que muitos pensam, nunca foi um problema para o relacionamento. Aliás, é somente através dela que os laços do amor se criam e se fortalecem. O convívio diário permite a construção de uma relação forte, segura e com planos em comum. O problema é que alguns confundem rotina com comodismo, frieza com estilo de vida e descaso com normalidade.
A gente tem dessas mesmo de se acomodar. De não tomar iniciativa em terminar. De aguentar humilhação com medo da solidão. E a pergunta é: para quê? A vida é uma só! E passa tão rápido! Tanta gente bacana disposta a entrar na nossa vida para nos fazer feliz e a gente preenchendo espaços com gente vazia. Amor não é isso. Amor é entrega. É oito ou oitenta. É tudo ou nada!
Não dá para viver um amor meio termo. Na verdade, nada “meio termo” serve: gente que vive em cima do muro irrita, água morna não serve nem para fazer chá e amores rasos só servem para gente carente. Amor foi feito para pessoas inteiras!
Compartilho da mesma ideia de Martha Medeiros ao escrever que as coisas mornas são perda de tempo: “Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. (…) O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”
Amor não é servido em fatias, em metades. Amor é plenitude. Chega uma hora em que é preciso ultrapassar as mensagens de whatsapp, os textões do Facebook e as fotos do Instagram e provar por A+B que amor é rotina sim! Amor de verdade dá frio na barriga, mas também da vontade de acordar juntos todos os dias. Dá borboletas no estômago, mas dá vontade de planejar a casa nova. Dá alvoroço nos pensamentos, mas dá vontade de buscar os filhos na escola.
Isso é amor inteiro. A partir do momento em que você começa a não ver o seu relacionamento dessa forma, é hora de repensar se ele já não acabou, há muito tempo, e você nem percebeu. Para Proust: “Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?”
Amor morno é a maior crueldade a qual podemos nos submeter. Quando não há mais saudade, quando a presença não é mais motivo para romance, quando as desculpas para não se encontrar são as mais esfarrapadas possíveis, não há porque insistir.
Metades aceitamos de um pedaço de bolo, de uma melancia, de um queijo. Não de um amor. Como dizia Clarice Lispector: “Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre”.
Não dá para aceitar um sentimento raso por comodismo ou pelo fato de você ter cansado do ciclo: conhecer alguém – trocar mensagens – conquistar – namorar. Se não está disposto a amar com tudo, nem entre em um relacionamento. Amar é coisa de gente forte mesmo!
De gelada deixe a cerveja, de metade deixe a conta do bar e de morno deixe o banho. O restante tem que ser quente e intenso, sim!