Publicado originalmente em Aleteia
Mais um termo da língua inglesa começa a ganhar popularidade em nosso idioma: “breadcrumbing”.
A tradução é algo como “espalhar migalhas de pão” – sim, a inspiração vem diretamente do conto infantil “João e Maria”. O termo “breadcrumbs” (“migalhas de pão”) já era usado no jargão cibernético em referência à estrutura de navegação em sites da internet, mas o sentido da expressão “breadcrumbing” (“espalhar migalhas de pão”) é diferente: ela indica a prática de ir espalhando “sinais de interesse” por outra pessoa, mas sem ter qualquer intenção de estabelecer um relacionamento sério com ela.
Os adeptos do “breadcrumbing” são aquelas pessoas que, por exemplo, ficam mandando mensagens reservadas e “curtindo” as postagens de alguém nas redes sociais como se estivessem sugerindo um interesse especial que vai além da amizade – mas sem passar nunca para um relacionamento amoroso real. Existe a insinuação de interesse, mas não existe a concretização.
A pessoa que recebe os supostos “sinais de interesse” fica alimentando expectativas apenas para se ver frustrada – sem falar no fato de que ela perde oportunidades de relacionamento sério porque está presa ao inútil aguardo de algum passo concreto do “espalhador de migalhas”.
E o que leva tanta gente a praticar o “breadcrumbing”?
As motivações podem ser diversas: de simples imaturidade, insegurança e indecisão até o consciente desejo de manter controle sobre a outra pessoa e, com isso, alimentar o próprio ego. Em qualquer dos casos, o “breadcrumbing” é um jogo inconsequente e irresponsável de aparências, manipulação e engano culpável: ele afeta um ser humano que está sendo induzido a alimentar esperanças ilusórias – e essa ilusão poderá, nos casos mais sérios, provocar grandes sofrimentos.
Manipulação também no âmbito profissional
Além das ilusões sentimentais, o “breadcrumbing” vem se tornando uma praga também no contexto profissional. Supostos “prospectos” se mostram interessados no trabalho de alguém e começam a solicitar informações, detalhes, exemplos, períodos de teste sem compromisso, nomes e casos de clientes, orçamentos, propostas… mas sem intenção alguma de concretizar um verdadeiro relacionamento profissional. São vampiros que sugam o que podem e depois voam noite adentro.
Trata-se de um jeito corrupto de induzir profissionais a compartilharem seus conhecimentos, seus diferenciais e suas habilidades, mas sem remunerá-los de maneira alguma. Os profissionais são levados apenas a perder tempo e a ceder recursos valiosos por conta de uma “aparência de interesse”, que, em muitos casos, era premeditadamente enganosa.
Assim como as vítimas do “breadcrumbing amoroso”, também as vítimas do “breadcrumbing profissional” precisam aprender a reconhecer essa prática e a reagir rápido, impondo limites e exigindo comprometimento efetivo do suposto “interessado”.
O “breadcrumbing” é uma forma de abuso vastamente comum, mas que ainda não tinha “nome” e, em muitos casos, não era sequer percebida por boa parte das vítimas como abuso e manipulação. É o tipo de prática prejudicial que só pode ser combatida mediante a conscientização e a mudança cultural.
Como ensinou Jesus, “que o vosso sim seja sim e o vosso não seja não”. É uma regra básica do jogo limpo.