Eu sempre digo que criança não tem religião. A criança tem pais deste ou daquele grupo religioso. Pelo menos para mim, influenciar um filho ainda em formação para que siga esta ou aquela verdade religiosa é cerceá-lo, limitá-lo em sua livre escolha em matéria que poderá ser muito importante em sua vida.
Também não critico quem ensine a sua fé aos seus filhos. Acho que pode ser a forma encontrada pelos pais para transmitir muitas das suas verdades.
A Folha de São Paulo ouviu, então, crianças que crescem no seio de nove grupos religiosos diversos. Eles disseram o que para eles é fundamental, no seu credo. Ou seja, a ideia do sagrado, da divindade. E disseram ainda o que esperam de seu Deus.
Foram ouvidas crianças de 6 a 11 anos de idade cujos pais são ligados ao: budismo, candomblé, judaísmo, rastafári, islamismo, cristianismo protestante, catolicismo, união do vegetal e espiritismo.
Luke Saul Jospa, 9 anos, judeu, que deu sua visão sobre Deus de uma forma bem diferente.
“Para nós não tem inferno, só céu. Assim: vamos fingir que você está no teatro. Se foi uma boa pessoa, ficaria na frente, mais perto de Deus. Se foi uma ruim pessoa, ficaria lá atrás”.
Núbia Selassie Cestaria Granello, 6 anos, é da religião rastafári e fala no deus Jah se referindo à ele como sendo as batidas de seu coração. “Ele e o meu coração e fica batendo em todos os momentos. Peço a Jah que o mundo fique bem limpinho”, disse Núbia.
Pertencente à religião União do Vegetal (dissidência do Santo Daime), Darah Cally Patrício, 8 anos, diz que é legal beber ayahuasca e que a bebida dá vontade de dar risada. “É muito legal beber. Tem gente que vomita, mas eu não sinto medo, sinto amor. E vontade de rir muito! Já vi árvores falando comigo”.
Para o muçulmano Mohamed Hussein Abid Ali, 8 anos, deu uma resposta direta sobre o que Deus representa para ele. “Deus é tudo para mim”. O pedido mais comum do garoto nos últimos dias é para que chova.
Ariom Scheffler, 11 anos, budista, Deus não é um ser físico. “Não tem um Deus físico, Deus é tudo e tudo é Deus”, disse. “Ele é feito de luz. O arco-íris, no budismo, representa uma pessoa com coração iluminado”.
Pietra Hanna Castanho, 10 anos, é evangélica e definiu Deus como alguém que a ama e a ilumina. “Deus nos ama e nos ilumina. Ele me ajuda quando alguém briga comigo”, afirmou.
A católica Beatriz Dias Samuel, 8 anos, diz que “Deus estão no meio do coração de todo mundo” e que para ela, Ele é um ser com cabelo longo porque “no antigo tempo não cortavam cabelo”.
Já a espírita Clara Veiga Carvalho, 10 anos, compara a reencarnação com a metamorfose da borboleta. “Deus criou a borboleta. Ela é bonita e feliz. Começa como se fosse um bicho horroroso, gosmento, e vira uma borboleta linda. É como o espírito que reencarna: você vai crescendo e evoluindo”.
Toda religião é boa quando os seus ensinamentos inspirarem os seguidores a serem pessoas melhores.
Que as nossas crianças, e nós adultos, meditemos nas palavras de Madre Teresa de Calcutá:
“Podemos nos tornar um Hindu melhor, um Muçulmano melhor, um Católico melhor.” E que nisso esteja o nosso esforço. Ser um humano melhor.”
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