Há 30 anos, um acidente radioativo fazia com que Goiás ganhasse espaço nos noticiários de todo o mundo.
Catadores de material reciclável encontram uma cápsula que continha 19 gramas do Césio 137 e, ao abri-la, colocaram-se expostos, juntamente com suas famílias e a população goianiense, a uma forte radiação que ceifou muitas vidas e, conforme relata a obra Sobreviventes do Césio 137, escrito por Carla Lacerda com a colaboração de Yago Sales, continua escrever histórias de morte e desolação na vida de suas vítimas.
“O livro levanta esta denúncia em manifesto contra o apagamento desta história que se iniciou em 1987 e ainda não acabou”, comenta a jornalista. Lançado em 2007 pela Editora Contato, Sobreviventes do Césio 137 recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Na ocasião, Carla Lacerda era repórter do diário O Hoje e produzia reportagens especiais sobre os 20 anos do acidente radiológico em Goiânia.
A segunda edição conta com a contribuição de Yago Sales, apoio fundamental para a atualização de narrativas. O prefácio foi escrito pelo premiado jornalista e documentarista, Vinicius Sassine. A apresentação do livro traz o ponto de vista da editora Larissa Mundim acerca de percepções que ficam mais nítidas com o distanciamento de três décadas do acidente com o Césio 137. Reeditado pela Nega Lilu Editora e relançado pelo Selo Eclea, a publicação do novo projeto editorial foi viabilizada por financiamento coletivo (crowdfunding), por meio da campanha “30 anos sem Leide das Neves”.
Hoje (quinta-feira), dia 9 de agosto, às 20 horas, no Coruja Café (Rua T7), será o lançamento do livro: Sobreviventes do Césio 137, de Carla Lacerda, com colaboração de Yago Sales.
Literatura e jornalismo
A escrita de Sobreviventes do Césio 137 se ancora nos princípios do Jornalismo Literário. Originalmente chamado de New Journalism, trata-se de um movimento que tem como expoentes autores como Gay Talese e Tom Wolfe. “A partir desta base conceitual e técnica, recontei o trágico episódio do acidente radiológico sob o ponto de vista das vítimas”, explica Carla Lacerda. Segundo ela, a referência para a produção do conteúdo inédito, especialmente escrito para esta segunda edição, é o livro Hiroshima, de John Hersey, considerado um marco do jornalismo literário moderno.
Assim, a jornalista conduz o leitor para aquele domingo, 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado para tratamento de câncer – que continha a cápsula de césio – foi encontrado por dois jovens em um terreno baldio onde funcionava o antigo Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), hoje o Centro de Convenções de Goiânia. “Como viviam as vítimas? O que sentiram durante a crise? Essas foram algumas perguntas que me motivaram a escrever e a registrar, por meio da história oral, a memória destas pessoas, como um patrimônio”, conta Carla Lacerda.
A publicação contém depoimentos de vítimas que, durante muito tempo, se recusaram a falar sobre o acidente com a imprensa, como os irmãos de Leide das Neves, Lucimar e Lucélia. E testemunhos que não estão mais disponíveis como o de Wagner Mota, um dos rapazes que achou a bomba de césio nos escombros do antigo IGR.
Profissionalmente envolvida com o caso há mais de 10 anos, Carla Lacerda ainda obteve instigante depoimento de Edson Fabiano, vizinho de Devair Alves Ferreira, um dos últimos sobreviventes a voltar do Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Geraldo Guilherme, que levou a bomba de césio à Vigilância Sanitária junto com Maria Gabriela, também foi encontrado pela autora e compartilha suas memórias sobre a tragédia radioativa. O então secretário estadual de Saúde, Antônio Faleiros, o bombeiro Agildo Wagner Jaime e Lourdes das Neves (a mãe da pequena Leide) são outros que trazem sua versão sobre o acidente.
Conheça os autores:
Concluiu o curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2003. Em 2009, finalizou Pós-Graduação em Jornalismo Literário. É autora de dois livros: Sobreviventes do Césio – 20 anos depois (2007) e Antônio de Oliveira – A marca de um homem (2016). Pelo primeiro título, recebeu menção honrosa no Prêmio Vladmir Herzog e foi agraciada pelo Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado de Goiás. Foi repórter do jornal O Hoje. Em Assessoria de Imprensa, tem passagens pela Câmara dos Deputados, Agência Goiana de Regulação, PUC Goiás, Prefeitura de Aparecida de Goiânia e Agência Brasil Central. Conquistou dois prêmios na área de telejornalismo. Atualmente, é repórter e apresentadora na TV Brasil Central, afiliada da TV Cultura em Goiás.
YAGO SALES
Formado em Jornalismo pela Faculdade Araguaia, em 2016, começou a escrever artigos e crônicas para o jornal Diário da Manhã aos 15 anos. Ainda como estagiário do jornal semanário Tribuna do Planalto, escreveu, em parceria com a jornalista Daniela Martins, reportagem investigativa que venceu o primeiro lugar do Prêmio Gilberto Velho 2017. Publicou na antologia de contos As Dores de Josefa (Selo Naduk – Nega Lilu Editora, 2016). Também é coautor, com outros 84 autores, de Mestres da Reportagens II e Mestres da Reportagem III, livros de entrevistas lançados pela Editora InHouse. Já contribuiu com reportagens especiais para diversos veículos nacionais. Foi repórter do Jornal Opção. Atualmente, é repórter do portal Dia Online e da Ponte Jornalismo.
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