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A carta ao meu pai

Por José Carlos Rodrigues.

Esta noite foi das piores da minha vida. Eras a pessoa que eu mais precisava neste momento. Chorei toda a noite, escondido nos cantos deste espaço que só me traz tristeza.

Pai, não sei o que passaste, não sei o que sentiste, simplesmente te escondeste e nem de mim te despediste. Esta noite eu penso que mais valia ir juntamente contigo, digo isto com toda a sinceridade, digo isto com toda a firmeza, de ti só tenho saudade, mergulhado somente nesta tristeza. Sabes pai, estas lágrimas doem-me tanto, fico afogado e permanecido nesta vida estúpida e ingrata. Tenho tantas saudades tuas pai, que sem ti sou como um segredo horrendo com atitude de quem me mata. Pai, a fé move montanhas, mas tu moves os meus sentimentos, obrigado pela tua sensatez, mas isso não chega pai, esta minha vida é uma estupidez. Lembras-te naquele dia que fomos àquela consulta? Chovia, chovia que não parava, olhando por aquela janela, vendo uma imagem horrenda e fictícia. Sentei-me na cadeira sem forças e sem ação, quando olhei para ti com a reação e o tormento daquela má notícia. Permanecido fiquei sempre a teu lado, constantemente, e em momentos bons, via o teu sorriso num gesto bem-aventurado.

Lembras-te das tainadas que fazíamos naquela pequena tasca com cheirinho a bolor, onde as paredes rústicas sentiam as nossas alegrias felicitadas num ambiente aliciador. Bebe pai, este vinho maduro alentejano, come pai, esta boa posta à mirandesa, acompanhada de migas e um vinho afundado em alegria ou momentos de tristeza. Uma força bruta deitou-me abaixo esta noite, ficando simplesmente as tuas lembranças, as tuas atitudes de uma vida, o teu aconchego. As tuas presenças, permanecidas na minha inocência, são hoje motivo de uma linda esperança.

Pai, toda a vida fui feliz a teu lado, mas esta noite, nunca mais esquecerei, porque sempre te amei, mesmo desolado com o teu desaparecimento, sou hoje o homem que sou, homem de H grande, homem desenvolvido, homem onde simplesmente à tua imagem sou uma simples semente que outrora um dia disseste: este é o meu filho, a razão da minha vida, o lindo ser que eu criei. Obrigado pai, amo-te.

José Carlos Rodrigues

Revista Pazes

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